sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

WORLD ECONOMIC OUTLOOK 2022: CAUTELAS!

 

(O Fundo Monetário Internacional acaba de publicar a atualização do seu World Economic Outlook para 2022, avançando com perspetivas diferentes das que havia já antecipado em outubro de 2021. Passando por ser o referencial macroeconómico global mais divulgado entre os exercícios prospetivos para a economia mundial, as suas previsões acabam por marcar os horizontes económicos dos agentes da economia mundial. Tem por isso sentido dedicarmos um post às suas previsões, até porque iniciará em fevereiro de 2022 um novo ciclo de programação e um novo ciclo político, matérias suficientemente importantes para discutirmos aqui a aragem que resulta desta atualização ...)

A ideia principal que emerge desta atualização do WEO (link aqui) é que ela não traz novidades de maior. Na verdade, não é difícil ao cidadão comum perceber que a revelação Omicron, datada de novembro de 2021, um mês exatamente após a publicação das perspetivas de outubro de 2021, veio trazer novas dificuldades à recuperação macroeconómica que se antevia. Os dados agora publicados pelo FMI citam um nível médio diário de mortes de 7.000 pessoas, o que conjugado com a desigual distribuição de vacinas na economia e a consequente assimetria de progressão da vacinação, tenderá obviamente a retrair o crescimento económico da economia mundial. Os EUA e a China comandam essa desaceleração, dada a magnitude dos seus produtos internos.

E, o que é mais importante, é que esse indesejável prolongamento pandémico (veremos até que ponto a Dinamarca estará certa ou se irá arrepender-se de ter decretado primeiro do que todos os outros o fim da emergência crítica) tenderá a repercutir-se na disrupção mundial das cadeias de valor e na permanência de instabilidades e carências de oferta de determinados produtos intermédios e finais.

Assim sendo, a previsão de que a recuperação macroeconómica de 2022 ficará aquém do esperado tem más e boas notícias associadas, com um crescimento médio global de 4,4% em 2022 para 5,9% em 2021. As más notícias são obviamente a desaceleração do crescimento global esperado e a permanência das disrupções da oferta. A boa notícia é a de que o WEO considera que essa recuperação mais modesta continuará a curto prazo a ser pautada por pressões inflacionistas que são essencialmente atribuídas às disrupções de oferta prolongadas pela permanência pandémica. Ou seja, que o surto inflacionista corrente, particularmente saliente nos EUA, não mostra sinais de apresentar uma dimensão estrutural com os efeitos em espiral conhecidos, mas parece ser, pelo contrário, uma consequência indireta da própria pandemia, ou seja, das disrupções de cadeias de valor que esta e a alteração das condições de procura com crescimento do consumo de bens provocam, não esquecendo os fatores energéticos que explicam uma parte do surto. Ou seja, o WEO é relativamente contido na antecipação de relações causais “subidas de preços – subidas de salários – subidas de preços”, previsão tanto mais robusta quanto menos duradouros forem os efeitos inflacionários em curso.

As previsões integram ainda mais quatro fatores de risco cuja intensidade relativamente é difícil antecipar com rigor:

  • As alterações da política monetária conduzida pelo FED – USA que o WEO estima serem incrementais;
  • A crise imobiliária na China que pode despertar alterações nas políticas de crédito;
  • A emergência climática que pode entre outras dimensões complicar disrupções de oferta;
  • E os fatores geopolíticos, atualmente muito instáveis sobretudo pela crise da Ucrânia, poderão alargar os fatores de disrupção.

Já o efeito acumulação de dívida global mundial estimada segundo os últimos números conhecidos em 226 triliões (milhões de milhões) de dólares, determinado pelo combate á própria pandemia, dependerá muito do modo como o crescimento económico observado após pandemia permita uma consolidação mais gradual ou mais abrupta dessa mesma dívida.

Moral da história (ou da previsão):

O mundo está incerto e instável, mas apesar de tudo se o seguimento do WOE se revelar consistente, a antecipação de 2022 e 2023 pode ser realizada com algum à vontade. E não é por acaso que falo em dois anos, é que existe uma forte probabilidade de um ciclo político de dois anos cá pelo burgo, isto se a noite de domingo próximo não trouxer disrupções mais salientes do que as do Word Economic Outlook.

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