Foram muitos dias de suspense e sucessivas votações no Parlamento até que ontem tenha finalmente surgido fumo branco com uma votação estrondosa no já presidente Sergio Mattarella. As negociações e jogadas de bastidores de toda a ordem (algumas mesmo bastante indecentes, com Salvini na linha da frente!) imperaram, tendo até a múmia Berlusconi chegado a sonhar e a lançar infrutiferamente o barro à parede em prol da sua própria eleição (o que representaria, aliás, um escandaloso retrocesso para uma Itália em significativo esforço no sentido de um relançamento de imagem e económico!); o Partido Democrático tremia com a instabilidade que adviria da possibilidade de novas eleições legislativas decorrente de uma escolha de Mario Draghi para o cargo presidencial; este, por sua vez, ia-se fazendo de morto, entre a sua vontade de aceder em fim de carreira ao cargo de maior prestígio no país e a sua consciência de que o seu trabalho primo-ministerial está por concluir e constitui até um serviço nacional mais relevante na atual conjuntura.
Julgo que a decisão final acabou por ser a mais sensata, também porque garante um largo consenso junto dos cidadãos italianos; sendo que Draghi nem sequer chegou a exprimir expressamente quanto lhe agradaria, como seguramente merecia pelo que foi deixando feito (nomeadamente no BCE e ao serviço da Europa mas não só), terminar a sua atividade com figura número um do país ― estou, por isso, convencido de que algum acordo de cavalheiros poderá ter ficado alinhavado para que o siciliano Mattarella, que agora reassume aos 80 anos, venha a renunciar daqui a uns anos e Draghi possa ainda vir a concretizar a sua vontade ontem patrioticamente adiada em silêncio; pese embora o facto de em política nada poder ser taken for granted...
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