Juro que não pretendo transformar-me numa espécie de comentador dos debates eleitorais em curso. E hoje até tinha um outro tema já pensado para explorar aqui, mas a contenda entre Catarina Martins e Rui Rio fez-me mudar de ideias e insistir numa apreciação dos debates pelo terceiro dia consecutivo. A razão principal foi dupla: por um lado, a aparente falha de Rio ― e digo aparente porque já me começa a parecer que a tática posicional de Rio passa por ir mantendo o Chega dentro do espectro de soluções pós-30 de janeiro ― ao sublinhar que afinal Ventura não era um defensor da prisão perpétua mas sim de uma versão mitigada da mesma; por outro lado, a forma como Catarina esgrimiu argumentos tecnicamente fundamentados (o que não significa inatacáveis) em todos os planos que foram trazidos para cima da mesa, chegando mesmo a ser moderada num domínio como o da economia que não é o seu e nunca chegando a ser radical em domínios sociais como os da saúde e da segurança social. Ou seja: Rio já vai em duas derrotas em debates, o que torna algo decisivo o debate com António Costa (a quem ganhou largo em 2019), e Catarina já vai em dois relativos sucessos em debates, parecendo estar a conseguir executar com mestria a arriscada estratégia de suavidade afirmativa que o Bloco definiu para esta campanha como forma de procurar evitar o desastre que se lhe vaticinava. Mas a procissão ainda vai no adro e bastará um qualquer pequeno deslize (ou arremedo disso) a um ou outro dos diversos lados em confronto para que ocorra a chamada “morte do artista” e muito possa mudar.
Sem comentários:
Enviar um comentário