terça-feira, 25 de janeiro de 2022

BAD FEELINGS

 

(Como se previa, as sondagens sucedem-se a um ritmo alucinante e, embora toda a gente oscile em dar-lhes ou não atenção, a verdade é que passam a constituir um elemento central da própria campanha influenciando o comportamento das forças políticas nessa mesma campanha. Pressupondo que todas são realizadas com lisura e sem manipulação desse potencial de influência atrás referido, pressuposto que não consigo garantir, a existência de sondagens para todos os gostos e preocupações oferece uma imagem que considero representativa da volatilidade das escolhas políticas dos dias 23, voto antecipado e 30 de janeiro, enormemente ampliada pela massiva interrogação suscitada pela magnitude dos confinados pandémicos. Por isso, ao contrário do que regra geral me sucede noutros atos eleitorais estou profundamente inquieto e não com “mixed feelings” mas com “bad feelings at all”.)

As últimas sondagens disponíveis, CNN e AXIMAGE/TSF, exemplificam bem a instabilidade de resultados a que anteriormente me referi, sendo praticamente impossível avaliar que tendências estarão a formar-se no eleitorado. Embora admita que quem ande mergulhado na rua em plena campanha, produzindo já agora a mais completa violação das regras sanitárias atuais numa desresponsabilização das forças políticas que trará consequências sempre nefastas para a credibilização do seu discurso (já não falando nas consequências sanitárias que estão à vista e que vão determinar um ato eleitoral ainda antes de um pico pandémico), possa ter uma outra impressão e daí a dramatização na rua, duvido muito que seja possível estabilizar por estes dias as tendências em formação. E, se admitirmos cenários medianamente penalizadores para a abstenção determinada pelas quarentenas e pelo receio de contaminação por parte dos não infetados, mais fica arreigada a minha ideia de que tudo vai ser uma estranha lotaria, uma roleta russa para alguns dos contendores.

Os meus “bad feelings” estão em linha com o que eu considerei desde o início ser uma estratégia errada do PS e de António Costa, hoje entregue a uma dinâmica de presença na campanha eleitoral que deixará marcas físicas e pessoais de grande expressão. Costa está hoje numa estratégia de permanente adaptação, ao dia e até à hora, do que vai percebendo estar a acontecer no eleitorado, que muitos vão ler como um sinal de profunda instabilidade. Claro que a instabilidade das sondagens tem efeitos nos próprios meios de comunicação social que gostam de cavalgar as tendências em formação, ampliando-as (batendo em quem está por baixo e glorificando quem anda por cima, é nojento, mas já estamos habituados). Mas é praticamente impossível ignorar a oscilação de posicionamento de Costa e o que irrita nestas coisas é que não havia qualquer necessidade de passar por isso. Uma posição mais flexível desde o início, que consistiria na exploração da capacidade de negociação à esquerda e ao centro também, que seria perfeitamente compatível com a valorização de se ter quebrado o tabu dos acordos parlamentares à esquerda, teria permitido que os últimos dias de campanha pudessem ser concentrados no que racionalmente resulta da análise sociológica (por exemplo convencer indecisos em função do conhecimento que exista sobre os mesmos ou apostar fundo nos grupos sociológicos que costumam pender para o PS) e não desperdiçar energias em bate-bocas, acusações que já não interessam a ninguém, sobretudo num contexto em que as coisas estão pretas para a esquerda.

A oscilação do peso do Chega nas sondagens é um outro profundo indicador de estabilidade, pois não será indiferente que no momento da votação algumas desses eleitores decidam confirmar essa orientação ou jogar na mudança que uma vitória de Rio representará. Como é óbvio, Rio sempre poderá dizer que se o Chega tiver expressão relevante de deputados não poderá tirá-los do parlamento, acaso eles decidam apoiar um governo por si liderado. Mas a experiência dos Açores traria sempre a Rio nessas condições uma enorme perturbação e sabemos como ele é pouco hábil a gerir essas nuances políticas.

Bloco de Esquerda e PCP parecem poder confirmar mínimos de representação eleitoral, não acrescendo assim nada às tendências de queda que já vêm de trás. A profunda instabilidade de projeções que se têm manifestado na IL, PAN e Livre (em que um abnegado e bem-intencionado Rui Tavares corre mais uma vez o risco de não estar no Parlamento), acentuam a profunda instabilidade que a semana corrente está a confirmar.

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