terça-feira, 11 de janeiro de 2022

ONDE ESTAMOS NA CAMPANHA?

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Volto à campanha, embora em termos breves. Apenas pretendendo assinalar algumas impressões dos últimos dias, a começar pela imensa desilusão que ontem registei ao ouvir o debate entre Rui Rio (RR) e João Cotrim de Figueiredo (JCF) ― que reputava ser um homem de causas (dogmaticamente liberais, mas causas), um político desapegado de lugares e um defensor de novos caminhos (a tal ideia do “nem de esquerda, nem de direita” que vinha agitando). Afinal, JCF guardara-se até agora para uma chocante e quase tocante insinuação junto do líder do PSD, abdicando de algum liberalismo em nome de uma visivelmente preferencial convergência com RR, assim assumindo claramente a sua ambição governativa e evidenciando à saciedade que nada mais do que o objetivo de derrube do socialismo o move. Obviamente que RR terá agradecido esta borla e que irá certamente reconhecê-la se algum dia lhe forem dadas condições para se aproximar do poder.

 

Esse mesmo Rui Rio, que disputa uma bipolarização eleitoral com António Costa ― uma bipolarização, de parte a parte, às vezes desejada e às vezes nem tanto ―, tem sido de algum modo o âmago desta componente televisiva da pré-campanha. O que foi especialmente visível no debate entre Costa e Ventura, onde surgiu como uma espécie de “matraquilho” que ambos foram explorando segundo interesses próprios, num jogo em que Ventura mostrou as suas manifestas insuficiências e Costa deixou evidente que não queria perder mas também que queria evitar ganhar por muitos (tanto taticismo!). Costa tem todas as suas baterias apontadas para Quinta-Feira, quando acontecerá o seu confronto com Rio, sendo todavia claro a quem vê de fora que só ganhará com verdadeiros golpes de asa e não com pequenos truques; como também que não será com um mero e pífio “juntos seguimos e conseguimos” que convencerá os portugueses que já nele votaram e tendem agora a descrer das vantagens de o reconfirmarem. 

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Deixei para o fim uma nota sobre Rui Tavares (RT), para muitos a primeira grande surpresa dos debates (sobretudo na sua fase inicial, em que bateu quase por KO o irritante e indesejável Ventura). Pois, ao contrário do meu amigo que escreve aqui ao lado, julgo que RT tem vindo a piorar as suas prestações e a nelas evidenciar um mix de reconhecida competência e inventividade com uma ingenuidade e incipiência política que o leva a referências desnecessárias e por demais óbvias quanto à atrapalhação ansiosa de que está imbuído (talvez algo complexado por uma espécie de “maldição de Béla Guttmann” que sobre ele tem vindo a pairar desde há anos). Sem prejuízo, nada do que afirmo põe radicalmente em causa que o voto no “Livre” ainda possa vir a ser a escolha de muitos cidadãos de esquerda definitivamente desiludidos com os três partidos da “geringonça”.


(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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