Já aqui por diversas vezes elogiamos com estrondo as prestações desportivas de Novak Djokovic. O sérvio é, de facto, um enorme atleta de ténis, estará quiçá a caminho de se tornar o mais importante de todos os tempos (um qualificativo algo injusto para os grandes nomes do passado que não dispuseram das condições competitivas e financeiras de hoje, mas não é esse agora o ponto).
Vem este introito a propósito da verdadeira e quase ridícula novela que está criada em torno da participação do jogador no Open da Austrália a acontecer, num processo que inclui negacionismo anti-vacina, explicações tentativas mas escassamente convincentes e indícios cada vez mais claros de mentiras em declarações prestadas às autoridades. A conferência de imprensa a que ontem acedi, com os privilegiados familiares diretos de Novak a abonarem em favor da sua idoneidade e a atribuírem este caso a uma qualquer perseguição pessoal, tornou-me clara a falta de razão de alguém cuja responsabilidade face à visibilidade internacional que possui (por mérito desportivo próprio, diga-se) exigiria dele uma maior transparência e uma atitude dominada pelo exemplo.
O dossiê ainda irá certamente ter diversos episódios, até talvez possivelmente influenciados pelo poder financeiro de Novak, mas de uma demonstração cabal de falta de princípios de cidadania e de escrúpulos básicos é que ele já não se livra; por mim, passarei a encarar os seus jogos ― na expectativa de que não ocorra uma generalização do teletrabalho, também neste domínio, como sugere com graça o cartunista ― menos pelo lado da admiração que tenho pelo seu talento e mais pelo lado de puxar sempre (mesmo que sem ilusões em termos de consequências) pela vitória dos seus adversários em campo.
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