A crer na notícia de primeira página do jornal “Inevitável”, a sorte de Rui Rio terá sido o facto de apenas 200 mil espectadores terem assistido ao seu debate de ontem à noite com André Ventura. Embora sempre possa acontecer que alguns façam rewind no seu televisor para irem perceber em diferido o que se passou...
Ora, o que se passou foi uma tragédia para Rio, apanhado incautamente na armadilha do demagógico, confuso e politicamente desordenado líder da extrema-direita portuguesa, contanto literalmente incontrolável na sua vertigem discursiva e confrontativa. Manifestamente, Rui Rio produziu o pior desempenho em debates que alguma vez teve na sua já longa vida política; também estou certo, no entanto, de que o líder do PSD terá cautelarmente aprendido a lição e poderá vir a surgir em condições de transferir a fava frente a um António Costa que tarda em aparecer a um nível minimamente compatível com as responsabilidades que adquiriu.
Não foi tanto a questão de Rio ter ou não deixado claro que não quererá nunca nada com Ventura. Porque, em palavras, deixou, pese embora o facto de estar por esclarecer o que acontecerá se o PS for o partido mais votado (como foi o PSD de Passos) e a direita no seu todo (incluindo o Chega) puder atingir uma maioria parlamentar ― resistirá Rio a esta força de atração pelo poder que assim impenderá soberbamente sobre ele e o seu partido? Não creio.
Mas a questão que se me tornou mais aflitiva foi a forma fácil como Rio se deixou guiar por Ventura, não apenas no comando dos temas em debate (às vezes parecia que estava ali para responder ao demagogo...) mas essencialmente no plano de uma alquebrada cedência a alguns princípios, como foi o caso da borla oferecida a Ventura a propósito da prisão perpétua. E se, no início, Rio ainda tentara distanciar-se através de uma referência às linhas programáticas antirregime do Chega, rapidamente acabou a permitir que Ventura se tornasse o “dono do jogo” em matérias que deveriam ser profundamente diferenciadoras, da subsidiodependência aos ciganos ou da saúde à questão fiscal, entre várias outras.
Uma palavra final para os comentários que captei no resto da noite. Apenas para elogiar a qualidade distintiva revelada por Cristina Figueiredo quando comparada com todos os outros que me foi dado ouvir na sua convencida eloquência tão cheia de clichés e lugares-comuns como de contradições nos termos tão mais visíveis quanto mais lhes foi sendo dado espaço para “encher pneus”.
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