(Fragmentadora de papel)
Acho que não conseguiria viver com a amargura mais ou
menos elitista de Vasco Pulido Valente. Mas que da sua pena e do seu olhar
talvez instalado numa mesa ao fundo, no Gambrinus, saem perspetivas impiedosas
mas lúcidas sobre o que nos rodeia e o nosso futuro como Pais não tenho a menor
dúvida. Vénia por isso a tanta lucidez amarga.
No Público de hoje:
“O que se vê – e não se vê mal – é o espetáculo de uma dúzias
de ladrões que se passeiam tranquilamente por Lisboa e almoçam nos restaurantes
do costume em toda a paz de espírito e sob a proteção da polícia. Foram (ou continuam
a ser) notabilidades do regime e o pior que lhes pode suceder (se alguma coisa,
alguma vez, lhes suceder) não irá com certeza além de um interminável processo
com dezenas de advogados de respeito e prestígio e um número interminável de
recursos, em que qualquer teólogo rapidamente se perderia.”
Imagina-se uma Lisboa, já não a Lisboa sigilosa e
intrigante da multiplicidade de espiões de 1939-1945, mas uma outra Lisboa de
captura da corte, agora também internacionalizada, sobretudo à custa das
grandes redes de branqueamento e de “offshorização”, enfim o know-how de mundialização tão necessário
a uma esperteza saloia indígena, mas que aprende muito depressa, como se vê e
continuará a ver.
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