terça-feira, 5 de junho de 2012

ALGUÉM HÁ 76 ANOS …


Com o mercado de trabalho no centro do debate do ajustamento da economia portuguesa imposta pela TROIKA, vale a pena recordar o que alguém escreveu há 76 anos:
“Os seguidores da tradição clássica, negligenciando o pressuposto específico subjacente à sua teoria, foram inevitavelmente conduzidos à conclusão, perfeitamente lógica à luz desse pressuposto, que o desemprego aparente (salvo certas exceções) se deve no fundo à recusa por parte dos recursos desempregados de aceitar uma remuneração que corresponda à sua produtividade marginal. Um economista clássico pode até simpatizar com a atitude do trabalho recusar uma redução do seu salário monetário e admitirá que pode não ser sensato aceitar condições que são temporárias; mas a coerência científica força-o a declarar que essa recusa é, apesar de tudo, a razão da perturbação.”
John Maynard Keynes, Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, 1936, capítulo 2, seção 4.
De 1936 até hoje muita coisa foi produzida sobre esta matéria e sobretudo sobre as diferentes maneiras de encarar o desemprego, sobretudo aquele que Keynes sabiamente designava de involuntário. Mas lendo os relatórios sobre o ajustamento da economia portuguesa, fica-se com a ideia que há quem pretenda que a realidade se ajuste ao funcionamento ideal que a teoria desejaria que ela tivesse. E quanto mais estrutural esse desemprego se apresenta, mais clara é a evidência de que a agenda teórica se sobrepõe à perceção da realidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário