Com o mercado de trabalho no centro do debate do
ajustamento da economia portuguesa imposta pela TROIKA, vale a pena recordar o
que alguém escreveu há 76 anos:
“Os seguidores da tradição clássica, negligenciando
o pressuposto específico subjacente à sua teoria, foram inevitavelmente
conduzidos à conclusão, perfeitamente lógica à luz desse pressuposto, que o
desemprego aparente (salvo certas exceções) se deve no fundo à recusa por parte
dos recursos desempregados de aceitar uma remuneração que corresponda à sua
produtividade marginal. Um economista clássico pode até simpatizar com a
atitude do trabalho recusar uma redução do seu salário monetário e admitirá que
pode não ser sensato aceitar condições que são temporárias; mas a coerência científica
força-o a declarar que essa recusa é, apesar de tudo, a razão da perturbação.”
John Maynard Keynes, Teoria Geral do Emprego, do Juro e
da Moeda, 1936, capítulo 2, seção 4.
De 1936 até hoje muita coisa foi produzida sobre esta matéria
e sobretudo sobre as diferentes maneiras de encarar o desemprego, sobretudo
aquele que Keynes sabiamente designava de involuntário. Mas lendo os relatórios
sobre o ajustamento da economia portuguesa, fica-se com a ideia que há quem
pretenda que a realidade se ajuste ao funcionamento ideal que a teoria
desejaria que ela tivesse. E quanto mais estrutural esse desemprego se
apresenta, mais clara é a evidência de que a agenda teórica se sobrepõe à
perceção da realidade.
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