sexta-feira, 1 de junho de 2012

A CORJA


A corja. O regresso da corja ou também o regresso dos vampiros. Títulos possíveis para um post sobre o retorno da reiterada e nunca esquecida por alguns ideia da redução de salários.
Incapazes de contornar os limites constitucionais da legislação portuguesa e de um ambiente saudável e imprescindível na sociedade portuguesa em torno da concertação social democrática, a ideia da redução de salários no setor privado tem emergido como bandeira dos setores mais retrógrados da economia e da sociedade portuguesas. Afinal, a chamada desvalorização nominal tem limites e por isso a redução imposta no setor público não logrou contagiar a contratação no setor privado. Isto, embora não escasseiem os mecanismos de rebaixamento da remuneração do trabalho, a começar pela brutalidade do desemprego e a acabar na precarização quanto baste.
Primeiro, foi a Comissão Europeia, isto acaso possa hoje considerar-se esta última como uma unidade de pensamento e de ação. Não o é de facto. Mas na sua composição, principalmente nas DG que se relacionam com as questões macroeconómicas e na nossa exportação mais adulterada dos últimos tempos (Durão Barroso) não foi ainda erradicada a ideia de transformar o sul da Europa num paraíso de baixas remunerações e gente produtiva. Tal projeto visa no fundo camuflar as dificuldades da UE como um todo em transformar-se num espaço de crescimento sistematicamente renovado e oferecer uma estratégia de transição consequente para um esforço continuado de redução da taxa de desemprego (11% na média da UE).
Por coincidência, chegou-me hoje às mãos “O Afável Monstro de Bruxelas ou a Europa sob Tutela” de Hans Magnus Enzensberger publicado pela Relógio de Água. Leitura para os próximos dias.
 Depois, chegam e falam os acólitos de sempre. António Borges à cabeça, não enganando ninguém e pergunta-se com que credenciais para defender o interesse público, enquanto ministro-sombra de um Governo que topa a tudo. Este senhor foi um dos que embandeirou em arco com a pretensa revolução da economia portuguesa no período 1985-95. Em texto laudatório sobre esse período de governação, AB defendeu que a economia portuguesa teria ultrapassado o Bojador dos baixos salários como fator de competitividade. Hoje, defende o seu contrário e parece querer condenar a economia portuguesa a mais algumas décadas de ineficiência dinâmica, fornecendo os piores sinais possíveis para a inovação empresarial.
Mas que corja.

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