A corja. O regresso da corja ou também o regresso dos
vampiros. Títulos possíveis para um post
sobre o retorno da reiterada e nunca esquecida por alguns ideia da redução de
salários.
Incapazes de contornar os limites constitucionais da
legislação portuguesa e de um ambiente saudável e imprescindível na sociedade
portuguesa em torno da concertação social democrática, a ideia da redução de
salários no setor privado tem emergido como bandeira dos setores mais retrógrados
da economia e da sociedade portuguesas. Afinal, a chamada desvalorização
nominal tem limites e por isso a redução imposta no setor público não logrou
contagiar a contratação no setor privado. Isto, embora não escasseiem os mecanismos
de rebaixamento da remuneração do trabalho, a começar pela brutalidade do
desemprego e a acabar na precarização quanto baste.
Primeiro, foi a Comissão Europeia, isto acaso possa hoje
considerar-se esta última como uma unidade de pensamento e de ação. Não o é de
facto. Mas na sua composição, principalmente nas DG que se relacionam com as
questões macroeconómicas e na nossa exportação mais adulterada dos últimos
tempos (Durão Barroso) não foi ainda erradicada a ideia de transformar o sul da
Europa num paraíso de baixas remunerações e gente produtiva. Tal projeto visa
no fundo camuflar as dificuldades da UE como um todo em transformar-se num
espaço de crescimento sistematicamente renovado e oferecer uma estratégia de
transição consequente para um esforço continuado de redução da taxa de
desemprego (11% na média da UE).
Por coincidência, chegou-me hoje às mãos “O Afável
Monstro de Bruxelas ou a Europa sob Tutela” de Hans Magnus Enzensberger publicado
pela Relógio de Água. Leitura para os próximos dias.
Depois, chegam e falam os acólitos de sempre. António
Borges à cabeça, não enganando ninguém e pergunta-se com que credenciais para
defender o interesse público, enquanto ministro-sombra de um Governo que topa a
tudo. Este senhor foi um dos que embandeirou em arco com a pretensa revolução
da economia portuguesa no período 1985-95. Em texto laudatório sobre esse período
de governação, AB defendeu que a economia portuguesa teria ultrapassado o
Bojador dos baixos salários como fator de competitividade. Hoje, defende o seu
contrário e parece querer condenar a economia portuguesa a mais algumas décadas
de ineficiência dinâmica, fornecendo os piores sinais possíveis para a inovação
empresarial.
Mas que corja.
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