Via Karl Whelan, um economista de Dublin que tem
refletido bastante sobre este tema, o gráfico acima descreve o comportamento
da balança de transações correntes dos países (em percentagem dos respetivos
PIB) sujeitos a programas de ajustamento (Portugal, Grécia e Irlanda) e em
dificuldades derivadas da crise das dívidas soberanas e/ou de imparidades do
sistema bancário.
Mais por força do efeito recessivo do que propriamente
por um forte crescimento das exportações (embora, por exemplo, em Portugal, a
resiliência do setor exportador seja apreciável), as balanças correntes têm
reduzido os seus défices externos. A Comissão Europeia estima mesmo que, em
2012, a Irlanda tenha a balança superavitária. A este facto não é estranho a
capacidade exportadora instalada da Irlanda, sobretudo associada a uma tradição
de capital estrangeiro, de orientação fortemente exportadora.
Este comportamento de melhoria das balanças correntes
destes países implicaria, em princípio, que os países financiadores destes défices
(com a Alemanha à cabeça e beneficiários por via das suas exportações desta
propensão importadora dos países em dificuldades) estivessem a observar uma desaceleração
desse financiamento. Défices menores, menores necessidades de financiamento.
Ora, de acordo com o sistema de compensações no interior do Euro-sistema (o já
aqui falado sistema TARGET), isto implicaria que os países financiadores
(principalmente a Alemanha) estivessem a ver diminuídos os seus créditos líquidos
no interior no interior do Euro-sistema.
Mas, de acordo com o gráfico acima, publicado pelo
Financial Times há alguns dias, o que se verifica é exatamente o contrário. Os
créditos líquidos da Alemanha estão, pelo contrário, a aumentar. Como é que se
percebe então que esses créditos líquidos estejam a aumentar com as balanças
correntes a comportar-se favoravelmente e a reduzir as necessidades de
financiamento externo? Se repararem na curva fortemente descendente da Espanha,
que evidencia que as responsabilidades espanholas estão a aumentar
abruptamente, percebe-se porque é que a letra não diz com a careta.
O que acontece é que, apesar do bom comportamento das
balanças correntes, a propagada fuga de capitais traduz-se no fim de contas num
aumento dos créditos líquidos do banco central alemão sobre o Euro-sistema. Na
verdade, mais do que uma fuga de capitais propriamente dita, o que se observa é
que nos países em dificuldades como a Espanha são dadas ordens de transferência
(escritural) para bancos “seguros”, que adquirem assim um crédito líquido sobre
o Euro-sistema.
O que isto significa é que isto é, sem dúvida, mais
importante do que o confronto sugestivo entre estes dois gráficos. Na verdade,
mesmo que os programas de ajustamento tenham andamento favorável na frente
externa da balança corrente, isso pode não ser suficiente para estarem a salvo.
O problema central do “bank run” está aí e as súplicas do Governo espanhol até
metem dó, sobretudo de uma força política que cultiva como ninguém a arrogância.
Sem comentários:
Enviar um comentário