(Com a devida vénia ao Imagens do Kaos)
Estive tentado a escrever o senhor Silva e o senhor
Borges não estão de acordo, mas o meu sentido institucional levou-me a falar respeitosamente
do Presidente.
Mas hoje houve uma notícia curiosa. A última arremetida
(não será por certo a última) do senhor Borges tem-lhe provocado alguma tareia
e ninguém pelos vistos subscreve a sua proposta de redução de salários. A
maioria governamental sente-se incomodada e haverá por certo os mais preocupados
com as sondagens a verberar tão incauta escolha de um ministro-sombra. Mas também personalidades como Silva Peneda e António Pires de Lima o fizeram. O Ministro Álvaro
agradece. O homem já tem que se substituir a alguns dos seus secretários de
Estado, quanto mais agora ter de se haver com um ministro sombra. Mas o
Presidente veio ajudar à tareia, já um pouco no fim, mas mesmo assim com uma
contundente afirmação de que não será com salários mais baixos que se constrói
a competitividade do país. Assinamos por baixo.
Mas do alto da sua cátedra, o Presidente disse mais,
disse que era com empreendedorismo e inovação que o problema se resolvia. Já
que o Presidente teima em ser pedagógico, conviria que explicasse melhor aos
portugueses esta dupla do empreendedorismo e inovação. Pois, de facto, eles não
estão ao mesmo nível. A inovação não pressupõe apenas nova capacidade
empresarial. Grande parte terá de ser operada com capacidade empresarial existente
e para isso é preciso dar sinais consistentes às empresas e sobretudo
incentivos coerentes e com alguma persistência no tempo. O novo empreendedorismo,
sobretudo o de base tecnológica, é absolutamente necessário, mas não será daí
que virá imediatamente a salvação. Mas aqui também é necessário persistência e
coerência de incentivos.
Ora, os sinais que vêm de declarações e aparições (parcas
e espaçadas) do Secretário de Estado que devia ocupar-se dessas coisas são
contraditórios com essa mensagem. O Secretário de Estado tem vendido a ideia de
que não contem com apoios públicos. No fundo, o que ele está de facto a dizer é
que façam como ele, ganhem dinheiro vendendo aos outros a sua ideia realizada de
negócio e pronto, lá se faz a política de inovação. Ainda gostaria de saber se
a génese do seu célebre negócio não terá beneficiado de qualquer apoio público
comunitário. Dizem as más-línguas que o secretário de Estado, antes de o ser e
ainda na qualidade de empresário, era todo salamaleques com as autoridades dos
programas operacionais responsáveis pelos apoios à inovação, não os conhecendo
praticamente agora. Feitios.
Mas o Presidente tão convicto na defesa da inovação
poderia ter dito que uma baixa de salários seria o pior sinal que poderia ser
emitido para a capacidade empresarial existente e para o tal empreendedorismo
em matéria de inovação. Uma baixa de salários conduziria a uma não inovação, pois tenderiam a optar por soluções menos intensivas em conhecimento. Pois o nosso problema de desemprego é complexo. Não temos apenas de criar emprego qualificado. A margem de desemprego desqualificado é ainda significativo. E
o nosso problema é sobretudo um problema de produtividade. A variável que tanto
preocupa o senhor Borges, o custo unitário em trabalho, não depende apenas da
remuneração nominal, mas também e fundamentalmente da produtividade. Esse sim é o problema e não vai lá com retórica, mas com organização empresarial.
Senhor Professor, a sua reflexão, e outras anteriores, criam um pressuposto falso e depois discursam em torno dele. Esse pressuposto é o de que o senhor Borges defendeu uma baixa de salários. Bastava ouvi-lo para saber que isso não é verdade.
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