quarta-feira, 6 de junho de 2012

O PRESIDENTE E O SENHOR BORGES NÃO ESTÃO DE ACORDO

(Com a devida vénia ao Imagens do Kaos)

Estive tentado a escrever o senhor Silva e o senhor Borges não estão de acordo, mas o meu sentido institucional levou-me a falar respeitosamente do Presidente.
Mas hoje houve uma notícia curiosa. A última arremetida (não será por certo a última) do senhor Borges tem-lhe provocado alguma tareia e ninguém pelos vistos subscreve a sua proposta de redução de salários. A maioria governamental sente-se incomodada e haverá por certo os mais preocupados com as sondagens a verberar tão incauta escolha de um ministro-sombra. Mas também personalidades como Silva Peneda e António Pires de Lima o fizeram. O Ministro Álvaro agradece. O homem já tem que se substituir a alguns dos seus secretários de Estado, quanto mais agora ter de se haver com um ministro sombra. Mas o Presidente veio ajudar à tareia, já um pouco no fim, mas mesmo assim com uma contundente afirmação de que não será com salários mais baixos que se constrói a competitividade do país. Assinamos por baixo.
Mas do alto da sua cátedra, o Presidente disse mais, disse que era com empreendedorismo e inovação que o problema se resolvia. Já que o Presidente teima em ser pedagógico, conviria que explicasse melhor aos portugueses esta dupla do empreendedorismo e inovação. Pois, de facto, eles não estão ao mesmo nível. A inovação não pressupõe apenas nova capacidade empresarial. Grande parte terá de ser operada com capacidade empresarial existente e para isso é preciso dar sinais consistentes às empresas e sobretudo incentivos coerentes e com alguma persistência no tempo. O novo empreendedorismo, sobretudo o de base tecnológica, é absolutamente necessário, mas não será daí que virá imediatamente a salvação. Mas aqui também é necessário persistência e coerência de incentivos.
Ora, os sinais que vêm de declarações e aparições (parcas e espaçadas) do Secretário de Estado que devia ocupar-se dessas coisas são contraditórios com essa mensagem. O Secretário de Estado tem vendido a ideia de que não contem com apoios públicos. No fundo, o que ele está de facto a dizer é que façam como ele, ganhem dinheiro vendendo aos outros a sua ideia realizada de negócio e pronto, lá se faz a política de inovação. Ainda gostaria de saber se a génese do seu célebre negócio não terá beneficiado de qualquer apoio público comunitário. Dizem as más-línguas que o secretário de Estado, antes de o ser e ainda na qualidade de empresário, era todo salamaleques com as autoridades dos programas operacionais responsáveis pelos apoios à inovação, não os conhecendo praticamente agora. Feitios.
Mas o Presidente tão convicto na defesa da inovação poderia ter dito que uma baixa de salários seria o pior sinal que poderia ser emitido para a capacidade empresarial existente e para o tal empreendedorismo em matéria de inovação. Uma baixa de salários conduziria a uma não inovação, pois tenderiam a optar por soluções menos intensivas em conhecimento. Pois o nosso problema de desemprego é complexo. Não temos apenas de criar emprego qualificado. A margem de desemprego desqualificado é ainda significativo. E o nosso problema é sobretudo um problema de produtividade. A variável que tanto preocupa o senhor Borges, o custo unitário em trabalho, não depende apenas da remuneração nominal, mas também e fundamentalmente da produtividade. Esse sim é o problema e não vai lá com retórica, mas com organização empresarial.

1 comentário:

  1. Senhor Professor, a sua reflexão, e outras anteriores, criam um pressuposto falso e depois discursam em torno dele. Esse pressuposto é o de que o senhor Borges defendeu uma baixa de salários. Bastava ouvi-lo para saber que isso não é verdade.

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