Até há poucos meses, ninguém conhecia Alexis Tsipras, o jovem de 37 anos que lidera a coligação da esquerda radical grega (SYRIZA) que alcançou um inédito e inesperado segundo lugar nas eleições de 6 de maio elegendo 52 deputados.
Adquiriu especial protagonismo no quadro da tentativa de formação de um governo com apoio parlamentar, designadamente quando foi para tal mandatado pelo Presidente da República e passou a ser visita assídua dos corredores palacianos. E, logo nesse momento, veio declarar que “o veredito popular torna claramente nulo o acordo de resgate” porque “3 milhões de votantes rejeitaram o resgate-austeridade”.
Apresentou, então, as sete condições do seu partido
para futuras coligações governativas: (1) anulação imediata das medidas de
austeridade, especialmente as respeitantes a cortes nos salários e pensões; (2)
anulação das cláusulas do programa de austeridade que extinguem direitos dos
trabalhadores; (3) moratória para o pagamento da dívida; (4) mudanças imediatas
na lei eleitoral [o bónus dos 50 lugares para o partido mais votado] e anulação
da lei que protege ministros de serem responsabilizados; (5) controlo público
dos bancos e disponibilização imediata do relatório Blackrock [sobre o estado
dos bancos gregos]; (6) constituição de uma comissão internacional para
auditoria à dívida pública; (7) cooperação ao nível europeu.
Já após ter sido decidida a convocação de novas eleições, Tsipras
fez uma deslocação “diplomática” a Berlim e Paris e por lá se manifestou nos
seguintes termos: “Viemos aqui explicar ao povo francês e ao povo alemão que
temos um problema em comum: a crise europeia, que requer uma solução comum, uma
solução europeia.” Acrescentando: “Já disse várias vezes que as eleições em
junho não significam que vamos sair da Zona Euro. Pelo contrário, representam
uma excelente oportunidade para salvar o Euro.”
Crescia entretanto a expectativa quanto ao anúncio do seu
programa, que apresentou a 1 de junho descrevendo-o como um “programa de
dignidade e esperança”. Assim se pronunciou quanto à sua principal marca: “a
primeira medida do governo da esquerda [após uma vitória nas eleições do
próximo dia 17] será a anulação do memorando [de entendimento com a Troika] e
das suas leis de implementação”, visto que ele falhou ao não tirar o país da
crise económica e ao impedi-lo de ter acesso aos mercados financeiros
internacionais nesta década.
Nesse mesmo quadro, referiu ainda que o memorando será substituído
por “um plano de recuperação nacional para o crescimento económico e social e a
reconstrução produtiva” (um dos economistas que apoia o SYRIZA estima em 70 a
80 mil milhões de euros o montante de investimento a curto prazo necessário
para um novo arranque da economia). Indo um pouco mais fundo, sublinhou como
grandes eixos da sua ação o congelamento dos cortes de salários e pensões
impostos pela Troika – prometendo revogar o corte de 22% no salário mínimo e
fazê-lo voltar aos anteriores 751 euros, assim como
fixar o subsídio de desemprego em 461,50 euros e promover a sua extensão em
mais um ano (para além dos atuais 12 meses) –, a introdução de medidas
amortecedoras da situação de sobre-endividamento das famílias, a baixa do
imposto sobre o valor acrescentado (especialmente para produtos alimentares
essenciais), a implementação de impostos sobre o património e a riqueza, a
interrupção do pagamento dos juros associados à dívida, o congelamento do
programa de privatizações e a manutenção das empresas estratégicas do
país sob controlo estatal e a nacionalização dos
bancos (em particular, dos que recebam apoios para recapitalização por parte do
Fundo Helénico de Estabilidade Financeira).
Estes são, em grosso, os factos. Sendo que o que mais releva é ler
para além deles, designadamente por forma a dirimir a questão extremada que
domina o mundo politicamente mais atento (ver a ilustração abaixo de Sofia Mamalinga,
sugestivamente designada “salto perigoso” e reproduzida de http://www.cartoonmovement.com): um dogmático e perigoso esquerdista
que, em nome de velhos princípios, contribuirá para a desgraça da Grécia e para
o desmoronamento da Europa ou um político em acelerada formação e que,
suportado por um clamor de dignidade, conseguirá manter a Grécia de pé e por lá
afirmar uma alternativa “verdadeiramente socialista”? Ou será que, nem sim nem
não, antes pelo contrário? Assunto a retomar...
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