Via Professor José Castro Caldas (CES – Coimbra) e a rede
ECONOMIA COM FUTURO com a qual tenho colaborado para uma reabilitação da
economia política e correspondente reencontro da profissão com o que
verdadeiramente interessa discutir, chegam-me ecos de uma nova rede de
economistas críticos, com epicentro em Espanha.
Chama-se ECONONUESTRA e visa reencontrar economistas críticos
e movimentos sociais dos países da Europa do Sul (Portugal, Grécia, Espanha e
Itália) no âmbito de um debate orientado para uma mudança nas políticas
europeias centradas na resolução da atual crise.
A rede apresenta-se com o seguinte desígnio:
“Intervir ativamente no debate económico, social e político,
desenvolvendo análise e propondo alternativas, num processo deliberativo com
movimentos sociais específicos de cada país.”
Anuncia-se para Madrid, em Novembro do presente ano, um
encontro organizado com o seguinte foco: Fraturas
e desigualdades na União Europeia – uma perspetiva dos países do Sul. Pretende-se
com esse encontro simultaneamente um resultado e um início de um debate que
visa a criação de um Manifesto, cuja elaboração obedecerá a uma metodologia
aberta de debate transversal, articulando diferentes redes nestes países.
No estado em que a ciência económica está e dada a anemia
que grassa na profissão, quer nos que a utilizam instrumentalmente (de forma
acrítica e frequentemente teleguiada para atingir determinados fins), quer nos
que sobre ela produzem e refletem, investigando (a maior parte das vezes
reproduzindo acriticamente orientações), manifestos desta natureza correm sérios
riscos. Era sobre esses riscos que gostaria de refletir um pouco.
De facto, procurar intervir no âmago do debate económico
e fazê-lo com uma geografia tão determinada, como a da Europa do Sul, equivale
a entrar numa zona de risco que costumo designar de acantonamento. O que é que
entendo por acantonamento? A nuance é para muita gente impercetível, mas convém
tê-la presente. Uma coisa é procurar intervir no rumo da economia política e
dos seu mainstream, denunciando que o
rei vai nu, embora fazendo-o do ponto de vista da sua incapacidade de formular
propostas consequentes para a crise atual e para o sofrimento que ela provoca,
problema do qual faz parte a incapacidade de compreender os problemas distintos
da Europa do Sul. Outra coisa será privilegiar esta última questão à custa de
perder o sentido de intervenção no debate sobre o estado da disciplina. A
separação entre as duas abordagens é muito ténue, mas a segunda orientação
tenderá a meu ver a gerar uma situação de acantonamento. E para acantonados já
basta o peso da geografia. Pessoalmente interessa-me a primeira orientação. Se
a oportunidade se proporcionar ensaiarei um contributo nessa direção, seguindo
aliás a inspiração do meu contributo para a 1ª conferência da Economia com
Futuro realizada em Lisboa na Gulbenkian e em torno da qual os contributos para
este blogue começaram a ser germinados.
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