quinta-feira, 7 de junho de 2012

ECONONUESTRA


Via Professor José Castro Caldas (CES – Coimbra) e a rede ECONOMIA COM FUTURO com a qual tenho colaborado para uma reabilitação da economia política e correspondente reencontro da profissão com o que verdadeiramente interessa discutir, chegam-me ecos de uma nova rede de economistas críticos, com epicentro em Espanha.
Chama-se ECONONUESTRA e visa reencontrar economistas críticos e movimentos sociais dos países da Europa do Sul (Portugal, Grécia, Espanha e Itália) no âmbito de um debate orientado para uma mudança nas políticas europeias centradas na resolução da atual crise.
A rede apresenta-se com o seguinte desígnio:
“Intervir ativamente no debate económico, social e político, desenvolvendo análise e propondo alternativas, num processo deliberativo com movimentos sociais específicos de cada país.”
Anuncia-se para Madrid, em Novembro do presente ano, um encontro organizado com o seguinte foco: Fraturas e desigualdades na União Europeia – uma perspetiva dos países do Sul. Pretende-se com esse encontro simultaneamente um resultado e um início de um debate que visa a criação de um Manifesto, cuja elaboração obedecerá a uma metodologia aberta de debate transversal, articulando diferentes redes nestes países.
No estado em que a ciência económica está e dada a anemia que grassa na profissão, quer nos que a utilizam instrumentalmente (de forma acrítica e frequentemente teleguiada para atingir determinados fins), quer nos que sobre ela produzem e refletem, investigando (a maior parte das vezes reproduzindo acriticamente orientações), manifestos desta natureza correm sérios riscos. Era sobre esses riscos que gostaria de refletir um pouco.
De facto, procurar intervir no âmago do debate económico e fazê-lo com uma geografia tão determinada, como a da Europa do Sul, equivale a entrar numa zona de risco que costumo designar de acantonamento. O que é que entendo por acantonamento? A nuance é para muita gente impercetível, mas convém tê-la presente. Uma coisa é procurar intervir no rumo da economia política e dos seu mainstream, denunciando que o rei vai nu, embora fazendo-o do ponto de vista da sua incapacidade de formular propostas consequentes para a crise atual e para o sofrimento que ela provoca, problema do qual faz parte a incapacidade de compreender os problemas distintos da Europa do Sul. Outra coisa será privilegiar esta última questão à custa de perder o sentido de intervenção no debate sobre o estado da disciplina. A separação entre as duas abordagens é muito ténue, mas a segunda orientação tenderá a meu ver a gerar uma situação de acantonamento. E para acantonados já basta o peso da geografia. Pessoalmente interessa-me a primeira orientação. Se a oportunidade se proporcionar ensaiarei um contributo nessa direção, seguindo aliás a inspiração do meu contributo para a 1ª conferência da Economia com Futuro realizada em Lisboa na Gulbenkian e em torno da qual os contributos para este blogue começaram a ser germinados.

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