quarta-feira, 25 de julho de 2012

A EXPORTAR COMO?


Muito boa gente embandeirou em arco com a melhoria verificada no défice comercial português. Convenhamos que os factos lhes concedem alguma razão, mas também que talvez haja que descontar certos exageros mais despropositados (como os de estarmos a viver uma situação ímpar desde 1943, os de uma quase heroicidade dos nossos empresários exportadores ou os de nexos causais apenas atribuíveis ao atual Governo e ao seu inefável ministro da pasta). Senão vejamos.

O gráfico acima evidencia a evolução do saldo comercial nos primeiros cinco meses do ano ao longo dos últimos treze anos e permite verificar que 2012 corresponde claramente ao melhor registo do período (valor abaixo de 4,7 mil milhões de euros), em resultado combinado de uma continuada evolução positiva das exportações (após a quebra de 2009) e de uma diminuição das importações.


Desagregando a taxa de cobertura global em duas grandes subdivisões, o novo gráfico acima permite a observância de um outro dado de significativo alcance: o de que aquela taxa se encontra hoje a níveis muito próximos no tocante ao comércio intra e extra-europeu (80,6% e 79%, respetivamente, para um valor global de 80,1%), na sequência de uma progressão notável (em 2000, o indicador estava a 61,9% e 44,9%, respetivamente, para um valor global de 58,2%) e que é especialmente marcante pelo esforço de diversificação das nossas exportações para fora dos seus mercados europeus mais tradicionais (sobretudo após 2005 – ganho de dez pontos percentuais no peso relativo das exportações extra, que já representam 28,2% do total).

Voltando ao relativo “boom” exportador 2009-2012 (acréscimo de 6,3 mil milhões de euros), fui ainda à procura de identificar as suas mais relevantes causas setoriais. Constatei assim que quase 79% daquele crescimento se ficou a dever a três grandes categorias de produtos: fornecimentos industriais diversos (40,1%), material de transporte e acessórios (21,5%) e combustíveis e lubrificantes (17,2%). Os mais pessimistas tenderão a acentuar que estaremos a tornar-nos cada vez mais dependentes da Galp e da Ford-Volkswagen, outros negarão que assim seja – de facto, uma tentativa adicional de cruzar aquela informação com outra de maior detalhe permitiu-me encontrar sinais de alguma diversificação setorial, com áreas como as da mecânica, metalurgia, plásticos e borracha, indústrias químicas e pasta e papel a valerem, por ordem decrescente e no seu conjunto, mais de 40% da nova dinâmica exportadora (contra menos de 6% para a chamada indústria têxtil, do vestuário e do calçado).

Veremos o que nos reserva o resto do ano, quer no tocante à sustentabilidade dos aparentes progressos das nossas vendas de bens no exterior (o que traduziria uma indicação de melhoria estrutural que seria portador de alguma esperança) quer no tocante à dimensão que assumirão os impactos recessivos nas nossas compras externas (o que traduziria uma indicação de mera melhoria conjuntural em situação de refluxo dos níveis de vida). Um assunto a justificar bastante mais aprofundamento e reflexão, a retomar pois...

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