quarta-feira, 4 de julho de 2012

ESTALEIROS DE VIANA


O dossier Estaleiros de Viana do Castelo corre seriamente o risco de se transformar num caso paradigmático de incompetência governativa que atinge o atual Governo, mas que sobra também para o último Governo de Sócrates sobretudo pela maneira como não conseguiu resolver o pós diferendo entre a empresa e o Governo Regional dos Açores. Esta incompetência de bloco central explica em parte o silêncio ensurdecedor que as bancadas parlamentares da maioria e do PS têm dedicado ao problema. Nos últimos tempos, o PCP parece ter esmorecido no acompanhamento do caso e o Bloco de Esquerda, provavelmente carenciado de alguma base de apoio entre os trabalhadores sindicalizados dos Estaleiros prefere apostar noutras paragens mais a sul.
Do ponto de vista da governação atual, o caso ilustra à saciedade a descoordenação governativa entre ministérios da Defesa e da Economia e perfila-se como um processo evidente de desbaratamento e de destruição de um capital empresarial e de experiência laboral sob o pretexto da preparação de um processo de privatização que, por este andar, caminha para as soluções simbólicas de “um euro” ou coisa que o valha.
Invocando aqui um xiste de Alberto João Jardim, o “betinho do Norte” (ou das bandas do Porto, já não me recordo bem o tom exato do dito xiste), transformado em ministro da Defesa, deleita-se, pelos vistos, com a inação e indeterminação dos processos. Por outro lado, o “ministro da ajudinha”, super Álvaro para os amigos, parece também não ter nada a dizer, como infelizmente em muitos outros processos. E, segundo informação que tem circulado, há aproximações concretas de interesses empresariais públicos e privados que se têm abstido de ser mais concretos enquanto a indeterminação governativa persistir quanto ao rumo daquela unidade empresarial.
A não candidatura dos Estaleiros de Viana do Castelo à construção de barcos para o empresário Mário Ferreira em associação com a Martifer é um processo que carece de explicação, sobre a qual não há um pronunciamento inequívoco por parte da sua atual administração.
No meio desta incompetência e descoordenação governativa, salva-se a atuação diligente e empenhada do Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo que me parece ser no momento o único personagem com uma visão integrada do processo e das suas fragilidades.
Este é um caso exemplar de como a preparação de uma privatização, que em si é discutível mas que pode ser compreensível se corresponder a uma validação democrática, pode arruinar o próprio projeto empresarial e comprometer uma cultura industrial localizada. Neste caso não é tanto a privatização que o provoca mas sim a incompetência e descoordenação da sua preparação.

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