O dossier Estaleiros de Viana do Castelo corre seriamente
o risco de se transformar num caso paradigmático de incompetência governativa
que atinge o atual Governo, mas que sobra também para o último Governo de Sócrates
sobretudo pela maneira como não conseguiu resolver o pós diferendo entre a
empresa e o Governo Regional dos Açores. Esta incompetência de bloco central
explica em parte o silêncio ensurdecedor que as bancadas parlamentares da
maioria e do PS têm dedicado ao problema. Nos últimos tempos, o PCP parece ter
esmorecido no acompanhamento do caso e o Bloco de Esquerda, provavelmente
carenciado de alguma base de apoio entre os trabalhadores sindicalizados dos
Estaleiros prefere apostar noutras paragens mais a sul.
Do ponto de vista da governação atual, o caso ilustra à
saciedade a descoordenação governativa entre ministérios da Defesa e da
Economia e perfila-se como um processo evidente de desbaratamento e de destruição
de um capital empresarial e de experiência laboral sob o pretexto da preparação
de um processo de privatização que, por este andar, caminha para as soluções
simbólicas de “um euro” ou coisa que o valha.
Invocando aqui um xiste de Alberto João Jardim, o “betinho
do Norte” (ou das bandas do Porto, já não me recordo bem o tom exato do dito
xiste), transformado em ministro da Defesa, deleita-se, pelos vistos, com a
inação e indeterminação dos processos. Por outro lado, o “ministro da ajudinha”,
super Álvaro para os amigos, parece também não ter nada a dizer, como
infelizmente em muitos outros processos. E, segundo informação que tem circulado, há aproximações concretas de interesses empresariais públicos e
privados que se têm abstido de ser mais concretos enquanto a indeterminação
governativa persistir quanto ao rumo daquela unidade empresarial.
A não candidatura dos Estaleiros de Viana do Castelo à construção de barcos para o empresário Mário Ferreira em associação com a Martifer é um processo que carece de explicação, sobre a qual não há um
pronunciamento inequívoco por parte da sua atual administração.
No meio desta incompetência e descoordenação governativa,
salva-se a atuação diligente e empenhada do Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo que me parece ser no momento o único personagem com uma visão
integrada do processo e das suas fragilidades.
Este é um caso exemplar de como a preparação de uma
privatização, que em si é discutível mas que pode ser compreensível se
corresponder a uma validação democrática, pode arruinar o próprio projeto
empresarial e comprometer uma cultura industrial localizada. Neste caso não é
tanto a privatização que o provoca mas sim a incompetência e descoordenação da sua
preparação.
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