A questão das
nomeações/demissões é o “pão nosso de cada dia” dos aparelhos partidários,
qualquer que seja o espetro político a que nos reportemos. No Portugal atual,
neste Governo como em anteriores, a diferença é apenas de importância relativa
dos cargos (remuneração, proximidade ao poder, visibilidade, etc.). Sendo que “quem
não tem cão, caça com gato” – senão vejamos, recorrendo ao empírico destes
dias.
1. A Centro, um
organismo da Administração Pública (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Centro) e a demissão do seu Presidente (em funções desde 20 de
Fevereiro) junto da ministra Assunção Cr istas, afirmando:
“Lutei pelo Centro de Portugal e pelos seus
interesses. É uma região em que acredito pelas suas potencialidades e pelas
suas gentes”.
Há
quem diga que aquele professor de Robótica da Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra terá cometido um delito de opinião ao afirmar que um
dos problemas de Portugal é o “excesso de dinheiro” e que “acabava já com o
QREN” (“temos muito dinheiro e pouca inteligência colocada nas coisas”). Outros referem que
se terá envolvido num conflito com
a delegada regional da Secretaria de Estado da Cultura, Celeste Amaro, mulher
do presidente da Câmara Municipal de Gouveia Álvaro Amaro. Outros, ainda, apontam
que terá manifestado discordâncias em dossiers como a
reforma do território ou a reprogramação das verbas do QREN (designadamente um
corte de 60 milhões de euros que no Programa Operacional Regional). E há
até quem fale de algumas quesílias protocolares e/ou da recusa de uma reunião
com o omnipresente Miguel Relvas – será que o futuro ainda lhe poderá vir a dar
razão?
Por seu lado,
um velho dinossauro autárquico do PSD, o presidente da Câmara de Vila Nova de
Poiares Jaime Soares, declarou: “há um determinado tipo de influências
político-partidárias locais que se sustentam nos interesses de grupo e não nos
interesses da coletividade” e “o resultado está à vista”…
2. A Norte, uma
empresa pública (Metro do Porto) e o duelo intestino Rio versus Meneses com
Álvaro a servir de padrinho e serventuário. A acontecer hoje a designação de
António José Lopes e Miguel Sá Pinto para completarem a nova administração, há
uma vítima inglória e um culpado operacional.
O bode
expiatório derrotado (quase como que “por indecente e má figura”) é António
José Samagaio – um professor da Universidade de Avero e titular de um curriculo
de 42 páginas relativamente ao qual a Comissão de Recrutamento e Seleção da
Administração Pública (CRESAP) considerou ter “informação mais do que
suficiente” para o declarar funcionalmente incapaz para administrador não
executivo!
A “barriga de
aluguer” foi a CRESAP e o seu Presidente João Bilhim – que começou por chumbar António
José Lopes por “não ter demonstrado variedade e qualidade de experiências nas
diversas áreas da gestão e do conhecimento específico do negócio público em
causa”, explicou depois que “não estava clara a razão pela qual o doutor Lopes
tinha abandonado a Vista Alegre e passado para a indústria”, enviou 12
perguntas ao dito economista e dele obteve 14 páginas de resposta, reavaliou a
situação e acabou por alterar o parecer e aprovar o nome daquele que será o
novo administrador executivo da empresa referindo que “este aspeto [ter saído
da Vista Alegre por esvaziamento do seu cargo após a aquisição da empresa] foi
altamente valorizado por revelar capacidade de iniciativa”!
Goste-se ou
não se goste do seu posicionamento ideológico e da consequente forma como tem
vindo a conduzir o Ministério das Finanças, tenho Vítor Gaspar na conta de um
homem intelectualmente honesto. Pelo que só por cansaço se lhe pode tolerar que
chame a isto “um exemplo de disciplina e imparcialidade”…
3. A Sul, e enquanto
o Norte e o Centro se vão entretanto com todos estes provincianos enredos, os
dignatários tratam da vida como deve ser. Veja-se o recente caso de José Luís Arnaut
na REN – como antes os de Catroga, Teixeira Pinto ou Braga de Macedo na EDP para
só dar mais um exemplo –, passando a participar diretamente no assalto chinês
ao nosso setor elétrico sem deixar de beneficiar igualmente da remuneração dos
serviços prestados à empresa pelo escritório de advogados de que é sócio (CSM
Rui Pena & Arnaut).
Eis uma verdadeira
história de enteados, filhos e primogénitos…
Sem comentários:
Enviar um comentário