sexta-feira, 13 de julho de 2012

TRAPALHADAS EM DESCENTRALIZAÇÃO


A questão das nomeações/demissões é o “pão nosso de cada dia” dos aparelhos partidários, qualquer que seja o espetro político a que nos reportemos. No Portugal atual, neste Governo como em anteriores, a diferença é apenas de importância relativa dos cargos (remuneração, proximidade ao poder, visibilidade, etc.). Sendo que “quem não tem cão, caça com gato” – senão vejamos, recorrendo ao empírico destes dias.

1. A Centro, um organismo da Administração Pública (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro) e a demissão do seu Presidente (em funções desde 20 de Fevereiro) junto da ministra Assunção Cr istas, afirmando: “Lutei pelo Centro de Portugal e pelos seus interesses. É uma região em que acredito pelas suas potencialidades e pelas suas gentes”.

Há quem diga que aquele professor de Robótica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra terá cometido um delito de opinião ao afirmar que um dos problemas de Portugal é o “excesso de dinheiro” e que “acabava já com o QREN” (“temos muito dinheiro e pouca inteligência colocada nas coisas”). Outros referem que se terá envolvido num conflito com a delegada regional da Secretaria de Estado da Cultura, Celeste Amaro, mulher do presidente da Câmara Municipal de Gouveia Álvaro Amaro. Outros, ainda, apontam que terá manifestado discordâncias em dossiers como a reforma do território ou a reprogramação das verbas do QREN (designadamente um corte de 60 milhões de euros que no Programa Operacional Regional). E há até quem fale de algumas quesílias protocolares e/ou da recusa de uma reunião com o omnipresente Miguel Relvas – será que o futuro ainda lhe poderá vir a dar razão?

Por seu lado, um velho dinossauro autárquico do PSD, o presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares Jaime Soares, declarou: “há um determinado tipo de influências político-partidárias locais que se sustentam nos interesses de grupo e não nos interesses da coletividade” e “o resultado está à vista”…

2. A Norte, uma empresa pública (Metro do Porto) e o duelo intestino Rio versus Meneses com Álvaro a servir de padrinho e serventuário. A acontecer hoje a designação de António José Lopes e Miguel Sá Pinto para completarem a nova administração, há uma vítima inglória e um culpado operacional.

O bode expiatório derrotado (quase como que “por indecente e má figura”) é António José Samagaio – um professor da Universidade de Avero e titular de um curriculo de 42 páginas relativamente ao qual a Comissão de Recrutamento e Seleção da Administração Pública (CRESAP) considerou ter “informação mais do que suficiente” para o declarar funcionalmente incapaz para administrador não executivo!

A “barriga de aluguer” foi a CRESAP e o seu Presidente João Bilhim – que começou por chumbar António José Lopes por “não ter demonstrado variedade e qualidade de experiências nas diversas áreas da gestão e do conhecimento específico do negócio público em causa”, explicou depois que “não estava clara a razão pela qual o doutor Lopes tinha abandonado a Vista Alegre e passado para a indústria”, enviou 12 perguntas ao dito economista e dele obteve 14 páginas de resposta, reavaliou a situação e acabou por alterar o parecer e aprovar o nome daquele que será o novo administrador executivo da empresa referindo que “este aspeto [ter saído da Vista Alegre por esvaziamento do seu cargo após a aquisição da empresa] foi altamente valorizado por revelar capacidade de iniciativa”!

Goste-se ou não se goste do seu posicionamento ideológico e da consequente forma como tem vindo a conduzir o Ministério das Finanças, tenho Vítor Gaspar na conta de um homem intelectualmente honesto. Pelo que só por cansaço se lhe pode tolerar que chame a isto “um exemplo de disciplina e imparcialidade”…

3. A Sul, e enquanto o Norte e o Centro se vão entretanto com todos estes provincianos enredos, os dignatários tratam da vida como deve ser. Veja-se o recente caso de José Luís Arnaut na REN – como antes os de Catroga, Teixeira Pinto ou Braga de Macedo na EDP para só dar mais um exemplo –, passando a participar diretamente no assalto chinês ao nosso setor elétrico sem deixar de beneficiar igualmente da remuneração dos serviços prestados à empresa pelo escritório de advogados de que é sócio (CSM Rui Pena & Arnaut).

Eis uma verdadeira história de enteados, filhos e primogénitos…

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