Via Gavyn Davies do Financial Times, tomei contacto com
um artigo algo sofisticado do ponto de vista técnico de Martin Brookes e ZiadDaoud, mas que é bem sintomático do estado global das expectativas dos agentes de
mercado sobre a economia mundial.
Tecnicamente, o que está em causa nesta análise é a emergência
nos mercados de títulos do chamado “prémio de risco de desastre económico”
através do qual os investidores nos mercados de títulos valoram a probabilidade
de ocorrência de um desastre económico de grandes proporções como uma grande
recessão de âmbito mundial, definida como uma queda de 10% ou mais no PIB em
termos reais.
Os autores mostram que, desde 2008, o risco de um
desastre económico dessa natureza tem vindo a ser percebido pelos investidores
como cada vez mais elevado. Como os títulos da dívida pública são vistos como
uma espécie de seguro face a esses riscos de desastre económico, o valor desse
seguro tende a aumentar face a essas perceções, fazendo baixar o preço dos yields associados a esses títulos, o que
explicaria a descida tendencial dos yields
para zero (de maturidade a dois anos) dos países considerados mais seguros. Pelo
contrário, nos casos de países com riscos de incumprimento (default), como a Espanha e a Itália, os
títulos da dívida pública deixam de funcionar como seguros de risco para o
desastre económico, fazendo disparar o valor dos yields.
Moral da história: os investidores
começam a percecionar o risco de um desastre económico medido por uma queda do
produto mundial de grandes proporções. Pior do que ser cego é não querer ver!
Continuamos assim reféns de uma má compreensão do estado atual da economia
mundial e das razões que o suportam. A economia do Reino Unido é talvez o
melhor exemplo da miopia doutrinária que os conservadores (o nome diz tudo,
neste caso) assumiram na política económica e monetária que está a mergulhar a
economia britânica numa situação de anemia prolongada.
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