segunda-feira, 9 de julho de 2012

O SEMPRE HÁBIL E SINUOSO PROFESSOR

O Professor Marcelo continua a sua saga comunicacional de grande audiência, ora incomodando (ma non troppo) a governação atual (bem diferente do último período do governo Sócrates), ora assobiando para o lado, ora ainda tentando (hoje com menos fulgor) marcar a agenda política.
Ontem, sempre com um reverente José Alberto Carvalho a tentar fazer de espectador embasbacado, o Professor concentrou-se sobretudo no tema da decisão do Tribunal Constitucional. Procurando situar-se numa posição de alter-ego do Governo que não é, mas que a intervenção precoce de Passos Coelho na noite da decisão do TC parece ratificar, a interpretação do Professor é que a decisão do TC oferece de bandeja ao Governo a oportunidade de estender aos trabalhadores do setor privado o manto severo da austeridade. Insinuou mesmo que, face a alguma desorientação provocada pelos rumos da execução orçamental, sobretudo do ponto de vista da capacidade de arrecadação fiscal, mas também pelos não progressos visíveis na reforma do Estado, a decisão do TC veio mesmo a calhar. A tese é algo peregrina, mas a situação criada pode criar ao Governo alguma fuga comunicacional, para a frente, sobretudo se o debate político parlamentar em torno da terapia em curso continuar a não libertar-se de alguma indigência de argumentos que o tem caracterizado. E não tenho a certeza do impacto real que uma decisão dessa natureza provocaria numa sociedade que foi sensível ao tema da não distribuição de sacrifícios.

De facto, uma coisa é o debate mais restrito de definir qual a melhor via para substituir em 2013 o efeito fiscal associado ao sequestro dos subsídios de férias e de Natal na administração pública. Outra bem diferente e mais importante do que esta é continuar o debate sobre os rumos do eufemístico ajustamento determinado pelo resgate financeiro. E neste último domínio a via mais fecunda só pode ser a de não dissociar o caso português da envolvente europeia, por mais especificidade que a nossa desalavancagem (bancária, privada e também pública) possa apresentar. Querer evidenciar a nossa convicção no cumprimento dos compromissos pode até constituir uma imagem de marca dos governantes. Mas confundir essa posição diferenciadora com a ideia peregrina de que o ajustamento português pode ser destacado da indeterminação global que pesa sobre toda a zona euro conduz-nos a uma rigidez perigosa de negociação. E, nos últimos tempos, não se ouviu uma ideia que fosse do governo português para além da submissão ao não pensamento (do not disturb) para não perturbar as posições alemãs.
Ora um pequeno país sob resgate não deixa por isso de pensar, se o souber fazer claro. Continua a ser uma voz no Conselho Europeu e no Euro-grupo. Abdicar de o fazer é contribuir para a sua anulação em qualquer outro domínio controverso da construção europeia.
No tema ministro Relvas, falaram mais alto as eventuais relações de bom relacionamento do Professor com a Universidade Lusófona. Não tenho pachorra para indagar qual a natureza desse bom relacionamento. Mas não deixa de ser curioso comparar o sentido da discussão que o tema suscitou no Quadratura do Círculo da passada semana com a bonomia do Professor quanto à certificação de competências no ensino superior. Não o ouvi com bonomia tão solícita e compreensiva a compreender as certificações escolares e profissionais para os trabalhadores não escolarizados das Novas Oportunidades. Quanto às mentiras do ministro elas não ocuparam sequer 30 segundos do programa.
Com pigarro ou sem pigarro, o Professor continua hábil e sinuoso.

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