Um dia no Gerês, muito perto dos novos símbolos do
novo-riquismo nacional (as mansões do empresário Jorge Mendes e mesmo em frente
na outra margem de Cristiano Ronaldo), deu para uma completa e circunstanciada
revisão da imprensa de fim-de-semana, incluindo a espanhola.
O que mais impactou o meu juízo crítico foram algumas
intervenções de personalidades que podem ser conotadas ideologicamente com a
presente maioria governamental, tendo-me suscitado a ideia de construir uma
nova família de posts em torno do que
chamarei o barómetro da maioria.
Na prática, uma forma de ir medindo o pulso ou a pressão à consistência da
referida maioria, fazendo-o em função do modo como diferentes acontecimentos ou
problemas tendem a impactar essa consistência.
O caso Relvas é um excelente instrumento para colocar o
barómetro em funcionamento.
Neste domínio, as posições bem marcadas de Bagão Félix e
António Pires de Lima, pesos pesados do pensamento CDS mesmo que distantes dos
jovenzinhos imberbes e bem vestidinhos que pululam no atual CDS, constituem
claramente um aviso à navegação e não acredito que Paulo Portas não tenha abençoado
(salvo seja) tais posições. Para mim, essas posições traduzem a incomodidade
que o CDS pressente no caso Relvas e na fragilização que ele provoca a uma
governação carenciada de tudo menos de rombos internos provocados pela
chico-espertice do vulcão de uma carreira política puramente pessoal. É muito
curiosa a posição das duas personalidades acima referidas, procurando preservar
o primeiro-ministro da situação criada. O problema é que essa separação é
impossível, pois é conhecida a dependência da ascensão política de Passos
Coelho face à margem de manobra negocial de Miguel Relvas, embora não se
conheça em profundidade até onde irão as cumplicidades. Por isso, as cartas estão
lançadas, para o bem e para o mal. A proteção que Passos Coelho concedeu à
personalidade Relvas não é inocente, nem ingénua. Tem um significado político
claro, até porque não se conhece no governo nenhuma outra personalidade com a
capacidade de coordenação política para além do próprio Relvas. Ou seja, com o
caso Relvas é a coordenação política do governo que está fragilizada.
A outra posição política com algum significado é a do
Presidente do Tribunal Constitucional, Rui Moura Ramos. Não deixa de ser algo
caricato que o Presidente do TC se tenha visto obrigado a clarificar um acórdão
da instituição a que preside. O problema de literacia na língua mãe parece
assim não ser apenas um problema do ensino secundário, para atingir
transversalmente a sociedade portuguesa e os seus órgãos político-constitucionais
mais representativos.
Mas a posição de Rui Moura Ramos, claramente identificado
ideologicamente com a presente maioria, não deixa de ser um rombo também
significativo na consistência das convicções governamentais. O que RMR veio
dizer é o óbvio que o conceito de equidade fiscal projeta-se sim no rendimento,
envolvendo necessariamente no esforço, o rendimento do capital e não na relação
público-privado. O argumento de que a correção do défice público deveria
envolver apenas os trabalhadores da função pública e o próprio Estado é só para
ingénuo ver. Como se uma grande parte do agravamento do défice público e dos níveis
da dívida não tivesse uma claríssima relação com o envolvimento do setor
privado na captura do interesse público, como o problema das parcerias público-privadas
assim o ilustra.
Ora, em meu entender, o governo terá aqui um dos seus últimos
fôlegos, que consistirá que tem uma ideia acabada sobre a equidade da repartição
dos sacrifícios.
E, pasme-se, com esta oportunidade de bandeja, oferecida
de dentro do quadro ideológico da maioria, o PS continua vidrado no
prolongamento por um ano do período de resgate. Será também que o PS também
acredita que a extensão da austeridade aos rendimentos do capital iria provocar
uma debandada dos capitais externos? Mas quais?
Não direi que no ar esteja já implantado aquele clima que
reinou na curta governação de Santana Lopes. Um clima que poderia resumir-se em
muitas posições do velho PSD do tipo “não me comprometa” ou “não conheço esses
senhores de qualquer lado”. Mas pelo que vou sabendo algumas personalidades desse
velho PSD já não hesitam em público em marcar bem que “não têm nada a ver com
aquilo”. Mas o problema é que deveriam ter!
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