domingo, 15 de julho de 2012

O BARÓMETRO DA MAIORIA



Um dia no Gerês, muito perto dos novos símbolos do novo-riquismo nacional (as mansões do empresário Jorge Mendes e mesmo em frente na outra margem de Cristiano Ronaldo), deu para uma completa e circunstanciada revisão da imprensa de fim-de-semana, incluindo a espanhola.
O que mais impactou o meu juízo crítico foram algumas intervenções de personalidades que podem ser conotadas ideologicamente com a presente maioria governamental, tendo-me suscitado a ideia de construir uma nova família de posts em torno do que chamarei o barómetro da maioria. Na prática, uma forma de ir medindo o pulso ou a pressão à consistência da referida maioria, fazendo-o em função do modo como diferentes acontecimentos ou problemas tendem a impactar essa consistência.
O caso Relvas é um excelente instrumento para colocar o barómetro em funcionamento.
Neste domínio, as posições bem marcadas de Bagão Félix e António Pires de Lima, pesos pesados do pensamento CDS mesmo que distantes dos jovenzinhos imberbes e bem vestidinhos que pululam no atual CDS, constituem claramente um aviso à navegação e não acredito que Paulo Portas não tenha abençoado (salvo seja) tais posições. Para mim, essas posições traduzem a incomodidade que o CDS pressente no caso Relvas e na fragilização que ele provoca a uma governação carenciada de tudo menos de rombos internos provocados pela chico-espertice do vulcão de uma carreira política puramente pessoal. É muito curiosa a posição das duas personalidades acima referidas, procurando preservar o primeiro-ministro da situação criada. O problema é que essa separação é impossível, pois é conhecida a dependência da ascensão política de Passos Coelho face à margem de manobra negocial de Miguel Relvas, embora não se conheça em profundidade até onde irão as cumplicidades. Por isso, as cartas estão lançadas, para o bem e para o mal. A proteção que Passos Coelho concedeu à personalidade Relvas não é inocente, nem ingénua. Tem um significado político claro, até porque não se conhece no governo nenhuma outra personalidade com a capacidade de coordenação política para além do próprio Relvas. Ou seja, com o caso Relvas é a coordenação política do governo que está fragilizada.
A outra posição política com algum significado é a do Presidente do Tribunal Constitucional, Rui Moura Ramos. Não deixa de ser algo caricato que o Presidente do TC se tenha visto obrigado a clarificar um acórdão da instituição a que preside. O problema de literacia na língua mãe parece assim não ser apenas um problema do ensino secundário, para atingir transversalmente a sociedade portuguesa e os seus órgãos político-constitucionais mais representativos.
Mas a posição de Rui Moura Ramos, claramente identificado ideologicamente com a presente maioria, não deixa de ser um rombo também significativo na consistência das convicções governamentais. O que RMR veio dizer é o óbvio que o conceito de equidade fiscal projeta-se sim no rendimento, envolvendo necessariamente no esforço, o rendimento do capital e não na relação público-privado. O argumento de que a correção do défice público deveria envolver apenas os trabalhadores da função pública e o próprio Estado é só para ingénuo ver. Como se uma grande parte do agravamento do défice público e dos níveis da dívida não tivesse uma claríssima relação com o envolvimento do setor privado na captura do interesse público, como o problema das parcerias público-privadas assim o ilustra.
Ora, em meu entender, o governo terá aqui um dos seus últimos fôlegos, que consistirá que tem uma ideia acabada sobre a equidade da repartição dos sacrifícios.
E, pasme-se, com esta oportunidade de bandeja, oferecida de dentro do quadro ideológico da maioria, o PS continua vidrado no prolongamento por um ano do período de resgate. Será também que o PS também acredita que a extensão da austeridade aos rendimentos do capital iria provocar uma debandada dos capitais externos? Mas quais?
Não direi que no ar esteja já implantado aquele clima que reinou na curta governação de Santana Lopes. Um clima que poderia resumir-se em muitas posições do velho PSD do tipo “não me comprometa” ou “não conheço esses senhores de qualquer lado”. Mas pelo que vou sabendo algumas personalidades desse velho PSD já não hesitam em público em marcar bem que “não têm nada a ver com aquilo”. Mas o problema é que deveriam ter!

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