(Diretores do HSBC perante uma comissão parlamentar americana, Haraz N. Ghanbari -AP)
À medida que a poeira dos aspetos financeiros mais recônditos
da crise internacional vai sendo depositada mais claro se torna apreender a
fragilidade e a vulnerabilidade de todo o sistema, designadamente tendo em
conta os desvios em matéria de regulação e supervisão.
No dia de hoje, mais dois elementos de grande relevância
vêm juntar-se a esta perceção.
Em Espanha, o atual governador do Banco Central admitiu
publicamente o falhanço das entidades reguladoras na gestão da crise, em toda a
linha pois envolveu a aplicação de medidas erradas, a incapacidade de gerir atempadamente
a bolha especulativa e o contágio da regulação e supervisão por parte da
entidade reguladora central. Pior seria difícil, atendendo à autocrítica do
atual governador. Aliás, a maneira como o problema das Cajas de Ajorro foi
sistematicamente diferido e resolvido já na parte final do processo é hoje
ainda responsável pela grande incerteza que paira internacionalmente sobre o
sistema financeiro espanhol. E se o atual governador admite não terem sido “os
piores da classe”, a afirmação diz bem da perda de controlo em que a regulação
e a supervisão acabaram por mergulhar. E o problema BANKIA está longe de estar
plenamente resolvido.
Noutras paragens, o senado americano acaba de acusar o HSBC,
banco britânico e o de maior dimensão na Europa, de ser veículo de lavagem de
dinheiro proveniente do narcotráfico e do terrorismo.
Não se conhece economia de mercado que sobreviva sem um
sistema bancário e financeiro eficaz e comprometido com uma dinâmica saudável e
não lesiva dos mecanismos de confiança do mercado. A economia mundial ainda não
recuperou de um choque que teve o seu epicentro no desvario mais ou menos
sofisticado do sistema financeiro.
Recordo que, nos fins dos anos 90, as chamadas crises
cambiais asiáticas começaram por sê-lo de facto, uma crise cambial, mas
rapidamente ficou a descoberto a enorme fragilidade dos sistemas de regulação e
supervisão da banca asiática. Mas afinal o problema já era mais profundo e não
apenas uma questão apenas circunscrita aos mercados asiáticos e às formas asiáticas
conhecidas do “crony capitalism”. Essa
fragilidade era também ocidental e bem viva nas principais praças financeiras
europeias e americanas. Estamos a meu ver ainda no longo processo de destruição
dos mecanismos mais ínvios e ocultos do sistema financeiro internacional. Resta
saber se essa destruição vai ser completa ou se vão permanecer expectantes
algumas dessas manifestações. Pela lentidão e/ou inépcia com que as
responsabilidades estão a ser assacadas é bem provável que algumas das situações
viróticas estejam já em fase de adaptação ao sistema, sobrevivendo.
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