quarta-feira, 18 de julho de 2012

REGULAÇÃO FINANCEIRA: POR ONDE TENS ANDADO?


(Diretores do HSBC perante uma comissão parlamentar americana, Haraz N. Ghanbari -AP)
À medida que a poeira dos aspetos financeiros mais recônditos da crise internacional vai sendo depositada mais claro se torna apreender a fragilidade e a vulnerabilidade de todo o sistema, designadamente tendo em conta os desvios em matéria de regulação e supervisão.
No dia de hoje, mais dois elementos de grande relevância vêm juntar-se a esta perceção.
Em Espanha, o atual governador do Banco Central admitiu publicamente o falhanço das entidades reguladoras na gestão da crise, em toda a linha pois envolveu a aplicação de medidas erradas, a incapacidade de gerir atempadamente a bolha especulativa e o contágio da regulação e supervisão por parte da entidade reguladora central. Pior seria difícil, atendendo à autocrítica do atual governador. Aliás, a maneira como o problema das Cajas de Ajorro foi sistematicamente diferido e resolvido já na parte final do processo é hoje ainda responsável pela grande incerteza que paira internacionalmente sobre o sistema financeiro espanhol. E se o atual governador admite não terem sido “os piores da classe”, a afirmação diz bem da perda de controlo em que a regulação e a supervisão acabaram por mergulhar. E o problema BANKIA está longe de estar plenamente resolvido.
Noutras paragens, o senado americano acaba de acusar o HSBC, banco britânico e o de maior dimensão na Europa, de ser veículo de lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico e do terrorismo.
Não se conhece economia de mercado que sobreviva sem um sistema bancário e financeiro eficaz e comprometido com uma dinâmica saudável e não lesiva dos mecanismos de confiança do mercado. A economia mundial ainda não recuperou de um choque que teve o seu epicentro no desvario mais ou menos sofisticado do sistema financeiro.
Recordo que, nos fins dos anos 90, as chamadas crises cambiais asiáticas começaram por sê-lo de facto, uma crise cambial, mas rapidamente ficou a descoberto a enorme fragilidade dos sistemas de regulação e supervisão da banca asiática. Mas afinal o problema já era mais profundo e não apenas uma questão apenas circunscrita aos mercados asiáticos e às formas asiáticas conhecidas do “crony capitalism”. Essa fragilidade era também ocidental e bem viva nas principais praças financeiras europeias e americanas. Estamos a meu ver ainda no longo processo de destruição dos mecanismos mais ínvios e ocultos do sistema financeiro internacional. Resta saber se essa destruição vai ser completa ou se vão permanecer expectantes algumas dessas manifestações. Pela lentidão e/ou inépcia com que as responsabilidades estão a ser assacadas é bem provável que algumas das situações viróticas estejam já em fase de adaptação ao sistema, sobrevivendo.

Sem comentários:

Enviar um comentário