Não poderá falar-se propriamente de uma surpresa, mas os dados divulgados num estudo realizado por James Henry para a organização não-governamental “Tax Justice Network” – “The Price of Offshore Revisited” – não deixam de impressionar significativamente e a vários títulos.
É, desde logo (quadro abaixo - clicar sobre para melhor visualização), a evidência de uma chocante desigualdade na distribuição da riqueza financeira privada global: (i) pouco mais de 91 mil pessoas (os “happy few” na designação do autor), correspondendo a 0,001% da população mundial, serão detentoras de ativos financeiros no montante de quase 17 biliões de dólares; (ii) o conjunto da chamada “elite global” (total de indivíduos detendo mais de 1 milhão de dólares) apenas representa pouco mais de 9 milhões de pessoas e corresponderá a 0,14% da população mundial; (iii) fora deste mundo mais rico ficam assim todos os outros (“everyone else”), isto é, 99,86% da população mundial não detendo mais do que 18,7% do total dos ativos financeiros globalmente existentes.
Recorrendo ainda ao quadro fica visível um “imenso buraco negro” na economia mundial. Com efeito, os ditos “happy few” terão cerca de 60% da sua riqueza financeira (quase 10 biliões de dólares) em situação de ausência de registo (“offshore”), percentagem que rondará os 44% para o conjunto da “elite global”. Observa-se ainda que, numa estimativa considerada conservadora, o total de ativos financeiros globais titulados via estruturas “offshore” – excluindo, portanto, todos os valores não financeiros, como o imobiliário ou iates – oscilará entre o mínimo revelado no quadro (21 biliões de dólares, algo equivalente à soma das economias americana e japonesa) e o máximo de 32 biliões de dólares. Ou seja: se assumíssemos uma modesta remuneração de 3% para tais ativos e uma tributação limitada a 30% desse rendimento, chegaríamos a uma perda global de impostos por parte dos Estados nacionais ascendendo a 190 a 280 mil milhões de dólares.
Veja-se finalmente (infografia abaixo, extraída do “The Guardian” - clicar sobre para melhor visualização) a repartição geográfica dessas fugas de capitais, nela sobressaindo os 20 “maiores perdedores” (encabeçados pela China, Rússia, Coreia e Brasil e genericamente concentrados em países com regimes políticos de capitalismo de Estado, em grandes produtores de petróleo ou em nações latino-americanas, asiáticas ou leste europeias).
Verdadeiramente paradisíaco, não é?
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