Edward Hugh é um economista radicado na Catalunha e particularmente
ativo quer nas redes sociais, quer na blogosfera em geral, com a
particularidade de escrever regulamente no EconoMonitor de Nouriel Roubini. Esta
última atividade tem-lhe garantido alguma notoriedade, destacando-se o seu juízo
crítico sobre algumas economias europeias.
Recentemente, a economia portuguesa foi o alvo da sua
atenção e análise, com uma peça, bastante longa, algo provocatória e com o
sugestivo título “Portugal - Please Switch The Lights Off When You Leave” (Portugal, Por Favor
Desligue as Luzes Quando sair).
A argumentação de Hugh aproxima-se bastante de alguns
argumentos aqui produzidos neste blogue. Mais especificamente, o ruído
provocado pelo resgate financeiro e sobretudo pela miopia da abordagem global à
crise europeia, plenamente justificado pela procura de alternativas a essa má
abordagem, não tem permitido que foquemos a nossa atenção sobre o essencial.
Como inverter o declínio de crescimento económico (ver gráfico
acima) já plenamente observado em período bem anterior à eclosão da crise
internacional de 2008?
A peça de Hugh destaca sobretudo os constrangimentos sérios
e estruturais que pesam sobre a economia portuguesa (envelhecimento, dívida,
fuga dos mais qualificados, taxa de desemprego, …) e muito pouco se concentra
nos fatores que poderiam assegurar uma resposta consistente à grande questão
anteriormente enunciada.
Como tenho vindo a defender, o ponto de partida para essa
resposta consistente não pode deixar de se basear nos resultados positivos da
mudança estrutural e do perfil de especialização que a última década terá
ocultado das estatísticas mais evidentes. São esses fundamentos que estão por
detrás da resiliência das exportações portuguesas (sublinhada por Hugh). A
estratégia não poderá deixar de se focar nesses fatores de mudança e pugnar
coerente e consistentemente pela sua disseminação a uma massa crítica mais
alargada de empresas. Só esse movimento poderá minorar a fuga dos mais
qualificados e gerar uma trajetória virtuosa de investimento e de absorção de
maiores qualificações por parte do tecido empresarial.
Tudo isto se subsistir algo depois do processo de
destruição produtiva a que a receita europeia nos está a conduzir.
Hugh destaca oportunamente a queda abrupta do produto da
construção civil e das licenças para construção de novas residências (ver gráficos
acima). É de facto impressionante essa queda. Mas nesse processo há muito de
destruição natural e necessária. Alguém compreende que, no século XXI, haja
empresas da construção a submeter os seus trabalhadores às condições de vida
que foram vistas na Covilhã na construção de um call-center para a PT? Tanta
indignação, mas tais situações não deveriam ter sido denunciadas antes pelos mecanismos
normais de fiscalização das condições de trabalho? E o Presidente da Câmara
Municipal, tão aguerrido em algumas questões, também não conheceria o processo?
Será que a obra era assim tão pequena para passar despercebida?
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