segunda-feira, 16 de julho de 2012

PORTUGAL BY EDWARD HUGH

Edward Hugh é um economista radicado na Catalunha e particularmente ativo quer nas redes sociais, quer na blogosfera em geral, com a particularidade de escrever regulamente no EconoMonitor de Nouriel Roubini. Esta última atividade tem-lhe garantido alguma notoriedade, destacando-se o seu juízo crítico sobre algumas economias europeias.
Recentemente, a economia portuguesa foi o alvo da sua atenção e análise, com uma peça, bastante longa, algo provocatória e com o sugestivo título “Portugal - Please Switch The Lights Off When You Leave” (Portugal, Por Favor Desligue as Luzes Quando sair).
A argumentação de Hugh aproxima-se bastante de alguns argumentos aqui produzidos neste blogue. Mais especificamente, o ruído provocado pelo resgate financeiro e sobretudo pela miopia da abordagem global à crise europeia, plenamente justificado pela procura de alternativas a essa má abordagem, não tem permitido que foquemos a nossa atenção sobre o essencial.
Como inverter o declínio de crescimento económico (ver gráfico acima) já plenamente observado em período bem anterior à eclosão da crise internacional de 2008?
A peça de Hugh destaca sobretudo os constrangimentos sérios e estruturais que pesam sobre a economia portuguesa (envelhecimento, dívida, fuga dos mais qualificados, taxa de desemprego, …) e muito pouco se concentra nos fatores que poderiam assegurar uma resposta consistente à grande questão anteriormente enunciada.
Como tenho vindo a defender, o ponto de partida para essa resposta consistente não pode deixar de se basear nos resultados positivos da mudança estrutural e do perfil de especialização que a última década terá ocultado das estatísticas mais evidentes. São esses fundamentos que estão por detrás da resiliência das exportações portuguesas (sublinhada por Hugh). A estratégia não poderá deixar de se focar nesses fatores de mudança e pugnar coerente e consistentemente pela sua disseminação a uma massa crítica mais alargada de empresas. Só esse movimento poderá minorar a fuga dos mais qualificados e gerar uma trajetória virtuosa de investimento e de absorção de maiores qualificações por parte do tecido empresarial.
Tudo isto se subsistir algo depois do processo de destruição produtiva a que a receita europeia nos está a conduzir.
Hugh destaca oportunamente a queda abrupta do produto da construção civil e das licenças para construção de novas residências (ver gráficos acima). É de facto impressionante essa queda. Mas nesse processo há muito de destruição natural e necessária. Alguém compreende que, no século XXI, haja empresas da construção a submeter os seus trabalhadores às condições de vida que foram vistas na Covilhã na construção de um call-center para a PT? Tanta indignação, mas tais situações não deveriam ter sido denunciadas antes pelos mecanismos normais de fiscalização das condições de trabalho? E o Presidente da Câmara Municipal, tão aguerrido em algumas questões, também não conheceria o processo? Será que a obra era assim tão pequena para passar despercebida?

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