A transição democrática em Espanha deve historicamente
muito a alguns homens profundamente reformistas e tolerantes que souberam
encontrar compromissos em situações particularmente difíceis, extremadas e
polarizadas em posições muitas vezes antagónicas.
Esse é o caso de Gregorio Peces-Barba, então Presidente
do Congreso de los Diputados e apontado como um dos pais da Constituição
espanhola que resultou da transição para a democracia e que acaba de falecer
nas Astúrias.
Via La Vanguardia, recupero um excerto de uma entrevista
de Peces-Barba aquele jornal catalão em 5 de Maio de 1986, onde se podem captar
palavras sábias para entender o centro de todas as dificuldades, azedumes e
revoltas em que a Espanha está mergulhada, sintetizada na expressão “nação de
nações”.
Citando:
“— Pergunta: Na
sua resposta anterior, citou Roca e Fraga. A Minoria Catalã defendeu a inclusão
do termo nacionalidades na Constituição e Fraga disse que a única nação é a
Espanha. O termo nacionalidades também o incomoda?
— Resposta: Não. A
realidade nunca me incomoda. Os factos são teimosos A Espanha é uma nação de nações (itálico carregado
nosso). Nacionalidade é sinónimo de nação. Do ponto de vista do que a
sociologia entende ser uma comunidade superior como é a nação, em Espanha
existem diversas nações, como a Catalunha, a Galiza, o Pais Basco, a Andaluzia
ou Castela. O que acontece é que algumas dessas nações fizeram o esforço de se
organizar para se integrar na nação superior que é a Espanha ao passo que
outras o fizeram em menor medida, entre outras coisas porque tão pouco eram
fácilmente admitidas. O que o Estado das autonomias possibilita com o
reconhecimento da nação de nações é que a nação daí resultante, a Espanha, seja
mais sólida e mais real do que poderia ser se não reconhecesse essas nações. Por
outro lado, parece-me estar hoje totalmente superado o velho princípio das
nacionalidades do século XXI de que cada nação deve ser um Estado.”
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