quarta-feira, 11 de julho de 2012

A ESPANHA SUBJUGADA


O memorando de entendimento, publicado pelo El País, que acompanhou a decisão europeia de assegurar uma ajuda ao sistema bancário espanhol, na prática uma modalidade de resgate financeiro, faz cair por terra a pose do Governo espanhol e sobretudo do seu 1º ministro Rajoy.
Aquilo que foi apresentado por Rajoy como uma vitória da dimensão do país, uma ajuda direta à banca sem comprometer a soberania do Estado espanhol, e que alguns comentadores entenderam como uma prova de força bem sucedida no interior da zona euro, afinal tem um alcance completamente diferente.
A ajuda à banca vem claramente mesclada de exigências típicas de um resgate financeiro, já que ela tem a contrapartida de uma trajetória de consolidação orçamental que tem dois anos para produzir efeitos e que está estimada num corte de 65 mil milhões de euros.
A passagem hoje de Rajoy e do Governo pelo Congresso para apresentar as novas medidas teve a configuração de um ato trágico-cómico, tendo em conta sobretudo o programa eleitoral do PP e o discurso de pose após a decisão europeia de ajuda à banca espanhola.
Recordemos. Uma economia fortemente atingida por um processo típico de bolha imobiliária, com desvario e irresponsabilidade bancário e com forte endividamento das famílias, que inicia a crise com uma apreciável saúde orçamental, acaba num processo típico de austeridade contracionista, fortemente direcionada para as contas públicas. Sublinho. Atingindo precisamente o setor institucional que estava em melhores condições na altura em que a economia espanhola foi impactada. Tudo isto com uma taxa de desemprego de dimensão fortemente estrutural, para a qual a única medida que ressalta das decisões anunciadas é a redução dos montantes de subsídio de desemprego e do tempo da sua atribuição, sempre com o estafado argumento de que vai estimular a procura de trabalho.
A loucura e a impunidade doutrinárias estão instaladas.
Que o PSOE nesta encruzilhada não consiga demarcar-se nas intenções de voto diz muito do vazio total em que os partidos socialistas atravessados pelas ideias do “blairismo”, do “new public management” e outras imbecilidades de pacotilha estão neste momento mergulhados. E esse vazio não é apenas uma solução de conveniência ou de "período de nojo" determinado para fazer esquecer o passado recente. É mesmo vazio no sentido literal do termo.

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