O memorando de entendimento, publicado pelo El País, que
acompanhou a decisão europeia de assegurar uma ajuda ao sistema bancário espanhol,
na prática uma modalidade de resgate financeiro, faz cair por terra a pose do
Governo espanhol e sobretudo do seu 1º ministro Rajoy.
Aquilo que foi apresentado por Rajoy como uma vitória da
dimensão do país, uma ajuda direta à banca sem comprometer a soberania do
Estado espanhol, e que alguns comentadores entenderam como uma prova de força
bem sucedida no interior da zona euro, afinal tem um alcance completamente
diferente.
A ajuda à banca vem claramente mesclada de exigências típicas
de um resgate financeiro, já que ela tem a contrapartida de uma trajetória de consolidação
orçamental que tem dois anos para produzir efeitos e que está estimada num
corte de 65 mil milhões de euros.
A passagem hoje de Rajoy e do Governo pelo Congresso para
apresentar as novas medidas teve a configuração de um ato trágico-cómico, tendo
em conta sobretudo o programa eleitoral do PP e o discurso de pose após a decisão
europeia de ajuda à banca espanhola.
Recordemos. Uma economia fortemente atingida por um
processo típico de bolha imobiliária, com desvario e irresponsabilidade bancário
e com forte endividamento das famílias, que inicia a crise com uma apreciável
saúde orçamental, acaba num processo típico de austeridade contracionista,
fortemente direcionada para as contas públicas. Sublinho. Atingindo precisamente
o setor institucional que estava em melhores condições na altura em que a
economia espanhola foi impactada. Tudo isto com uma taxa de desemprego de
dimensão fortemente estrutural, para a qual a única medida que ressalta das
decisões anunciadas é a redução dos montantes de subsídio de desemprego e do
tempo da sua atribuição, sempre com o estafado argumento de que vai estimular a
procura de trabalho.
A loucura e a impunidade doutrinárias estão instaladas.
Que o PSOE nesta encruzilhada não consiga demarcar-se nas
intenções de voto diz muito do vazio total em que os partidos socialistas
atravessados pelas ideias do “blairismo”, do “new public management” e outras
imbecilidades de pacotilha estão neste momento mergulhados. E esse vazio não é apenas uma solução de conveniência ou de "período de nojo" determinado para fazer esquecer o passado recente. É mesmo vazio no sentido literal do termo.
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