domingo, 22 de julho de 2012

CAVACONOMICS


Outra entrevista a registar na imprensa do fim de semana, foi a de Cavaco ao “Sol”. O homem tem um mérito: insiste, insiste sempre em alardear a sua seletiva isenção e a finura do seu raciocínio económico.

Por um lado, e pouco mais de um ano depois de Sócrates ter arrancado nas instâncias europeias (Comissão e BCE) um inédito comunicado conjunto – que poderia, aliás, ter ajudado a escrever uma outra e menos humilhante história –, Cavaco acha agora que “foi devido ao aumento da credibilidade de Portugal que o ministro das Finanças conseguiu aquela declaração do Eurogrupo que dizia mais ou menos isto: ‘Convidamos a troika, na próxima visita a Portugal, a trabalhar com as autoridades portuguesas para que Portugal se mantenha no bom caminho e tenha sucesso na execução do seu programa de ajustamento’. E sublinha “que isto nunca tinha sido feito antes”…

Por outro lado, a resposta à questão de se Portugal deve pedir mais um ano para o plano de ajustamento, a exemplo do que fez a Espanha, ficará nos nossos modestos anais do brilho e da perspicácia. Ei-la: “Quando se fala em mais prazo, interessa perguntar: mais prazo para quê? Mais prazo para realizar as reformas estruturais que aumentem a competitividade da economia portuguesa? Mas mais prazo, aqui, significava mais desemprego. Mais prazo para reforçar a solidez da banca portuguesa? Mas a banca portuguesa já tem uma solidez que não é inferior à média da União Europeia. Mais prazo para a redução do défice? Mas o défice é uma variável endógena. Os governos não controlam o seu valor exacto. O défice depende da situação económica do país e da situação económica dos outros países, porque depende das nossas exportações, ou seja, daquilo que os outros nos compram, ou dos turistas que nos visitam. Por isso, acho que é mais correcto olhar para as políticas, em vez de concentrar a atenção numa variável que os governos não controlam directamente. Aliás, a nossa experiência prova-o: os governos prevêem um valor para o défice e, a posteriori, esse valor é bastante diferente. Portanto, é mais correcto olhar para as políticas. Tentar encontrar políticas que, garantindo a sustentabilidade das finanças públicas, sejam equitativas e minimizem o efeito sobre a economia, isto é, sejam menos recessivas.” De génio!


Não fora o inestimável contributo da coluna de Manuela Ferreira Leite no “Expresso” de ontem, com o título “Jogo de Palavras”, começaria a convencer-me de quanto não primo pela inteligência em geral e pela competência em particular. Só que, afinal, parece que: (i) “se não atingirmos o objetivo do défice em 2012 e este facto for aceite pelas autoridades credoras, é porque nos concederam um alargamento do prazo para o alcançar”; (ii) “se a troika exigir o cumprimento daquele objetivo na data estabelecida e este vier a ser cumprido com receitas extraordinárias, o que é isto senão o alargamento do prazo de consolidação orçamental?”. Eureka!

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