Outra
entrevista a registar na imprensa do fim de semana, foi a de Cavaco ao “Sol”. O
homem tem um mérito: insiste, insiste sempre em alardear a sua seletiva isenção
e a finura do seu raciocínio económico.
Por um lado, e pouco mais de um ano depois de
Sócrates ter arrancado nas instâncias europeias (Comissão e BCE) um inédito
comunicado conjunto – que poderia, aliás, ter ajudado a escrever uma outra e
menos humilhante história –, Cavaco acha agora que “foi devido ao aumento da
credibilidade de Portugal que o ministro das Finanças conseguiu aquela
declaração do Eurogrupo que dizia mais ou menos isto: ‘Convidamos a troika, na
próxima visita a Portugal, a trabalhar com as autoridades portuguesas para que
Portugal se mantenha no bom caminho e tenha sucesso na execução do seu programa
de ajustamento’. E sublinha “que isto nunca tinha sido feito antes”…
Por outro lado, a resposta à questão de se Portugal deve
pedir mais um ano para o plano de ajustamento, a exemplo do que fez a Espanha,
ficará nos nossos modestos anais do brilho e da perspicácia. Ei-la: “Quando se fala em mais prazo, interessa perguntar:
mais prazo para quê? Mais prazo para realizar as reformas estruturais que
aumentem a competitividade da economia portuguesa? Mas mais prazo, aqui,
significava mais desemprego. Mais prazo para reforçar a solidez da banca
portuguesa? Mas a banca portuguesa já tem uma solidez que não é inferior à
média da União Europeia. Mais prazo para a redução do défice? Mas o défice é
uma variável endógena. Os governos não controlam o seu valor exacto. O défice
depende da situação económica do país e da situação económica dos outros
países, porque depende das nossas exportações, ou seja, daquilo que os outros
nos compram, ou dos turistas que nos visitam. Por isso, acho que é mais
correcto olhar para as políticas, em vez de concentrar a atenção numa variável
que os governos não controlam directamente. Aliás, a nossa experiência prova-o:
os governos prevêem um valor para o défice e, a posteriori, esse valor é
bastante diferente. Portanto, é mais correcto olhar para as políticas. Tentar
encontrar políticas que, garantindo a sustentabilidade das finanças públicas,
sejam equitativas e minimizem o efeito sobre a economia, isto é, sejam menos
recessivas.” De génio!
Não fora o inestimável contributo da coluna de Manuela Ferreira Leite no “Expresso” de ontem, com o título “Jogo de Palavras”, começaria a convencer-me de quanto não primo pela inteligência em geral e pela competência em particular. Só que, afinal, parece que: (i) “se não atingirmos o objetivo do défice em 2012 e este facto for aceite pelas autoridades credoras, é porque nos concederam um alargamento do prazo para o alcançar”; (ii) “se a troika exigir o cumprimento daquele objetivo na data estabelecida e este vier a ser cumprido com receitas extraordinárias, o que é isto senão o alargamento do prazo de consolidação orçamental?”. Eureka!
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