(The Economist)
O Economist desta semana dedica um artigo a um impacto
menos badalado da atual crise económica a que, já por mais de uma vez, dediquei
alguma atenção neste blogue – o impacto da crise sobre a fertilidade, mais
propriamente sobre a taxa de fertilidade, número médio de filhos por mulher em
idade ativa de procriação.
O gráfico que abre este post é muito ilustrativo do que
está a ser observado a partir de 2008. Depois de um período de recuperação da
taxa de fertilidade em alguns países, eis que com o impacto da crise económica
internacional e europeia em particular e pelo efeito da indeterminação de
futuro que pesa sobre todos nós essa recuperação se encontra bloqueada. O
artigo diferencia bem os dois processos que podem estar subjacentes à nova
queda da taxa de fertilidade: a decisão de reduzir efetivamente o número de
filhos por casal ou, pelo contrário, de diferir no tempo a data de nascimento
do primeiro filho. Investigação recente evidencia que é provavelmente o segundo
efeito que está a acontecer nas economias europeias, o que pode anunciar ser o
recuo atual da taxa de fertilidade meramente temporário.
Estamos perante um fenómeno transversal a toda a União
Europeia e francamente grave nos países de Leste e da Europa central. Mas o
aparente estado de graça (sem qualquer analogia com uma interpretação divina da
criatividade) dos países da Europa do sul esgotou-se há muito e mesmo em
Portugal estamos perante uma das mais baixas taxas de fertilidade do mundo.
Não é difícil antever as consequências estruturais de um
fenómeno deste tipo: queda acentuada do produto potencial das economias,
insustentabilidade do sistema de proteção social, maximização do problema do
envelhecimento e forte dependência da energia demográfica da intensidade dos
fenómenos de migrações, sobretudo do afluxo à Europa de populações com taxas de
fertilidade culturalmente muito mais elevadas.
A dimensão económica da fertilidade nunca foi tomada a sério
em Portugal, sobretudo se a pensarmos como impactando o segundo ou o terceiro
filho. Recordo-me de, no Governo de Cavaco Silva, quando lecionava estas matérias
em teorias e políticas do desenvolvimento, ter sido constituído um grupo de
trabalho em que constavam cientistas de vários domínios (psicologia, várias
especialidades de medicina, sociologia), mas em que nenhum economista era
considerado necessário. Pura tontice, falso pudor, puritanismo serôdio, não
compreendendo o peso da indeterminação. Aliás a relação inversa hoje existente
entre a magnitude da taxa de desemprego e a idade em que se assume o casamento
e/ou a vida em comum é por demais conhecida.
A opinião pública parece reagir mais ao catastrofismo de
algumas projeções como aquela que consta do gráfico abaixo, que nos indica a
data em desapareceria a última mulher e com ela a reprodução de algumas sociedades.
Mas o problema é bem mais relevante do que a visão
catastrofista nos anuncia e constitui uma dimensão inequívoca dos custos
sociais do desemprego e da indeterminação atual.
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