O governo em funções desde logo manifestou a sua
animosidade para com a Iniciativa Novas Oportunidades e, implicitamente, para
com os processos de certificação, escolar na primeira fase e profissional já
mais recentemente.
Bondosamente, interpretei inicialmente essa animosidade
como uma tentativa de estabelecimento de rigor nas condições de certificação
que a referida iniciativa proporcionava, contrapondo esse rigor ao efeito de
cobertura de massa pretendido e às naturais complicações que tendem a emergir
quando começam a afluir a processos deste tipo as populações socialmente mais
precárias.
Rapidamente percebi que de rigor estávamos conversados. A
referida animosidade compreendia-se melhor por um alinhamento de circunstância
e um pouco oportunista com um espírito de senso comum muito disseminado na
sociedade portuguesa e na sua frágil opinião pública. Sem cultura de avaliação
sistemática dos processos sobre os quais se dispara a suspeição, é prática
comum tomar a distribuição pelos valores aberrantes e mais isolados. E a
verdade é que não existe ainda uma avaliação rigorosa dos impactos da INO, já
que a grande avaliação realizada pela equipa do Professor Roberto Carneiro se baseia essencialmente em indicadores de satisfação e perceção por parte dos
beneficiários.
Mas nestes dias compreendi que há uma outra razão. A
vertiginosa licenciatura do ministro Relvas baseada na prática na certificação
de pretensas qualidades e conhecimentos determinada não só pela sua prática,
mas também por frequências mais ou menos obscuras, representa uma modalidade
avançada de Novas Oportunidades da qual certamente os portugueses ainda não
tinham dado conta.
Assim, a atual maioria e particularmente o partido
maioritário tem desconfiança quanto aos processos de certificação porque
conhece profundamente o assunto por dentro e de experiência própria. E nada
melhor do que conhecer os assuntos de perto, mesmo que isso tenda abusivamente
a transformar as exceções em regras.
E não me admiraria que, se vingar a peregrina ideia de
iniciar o ensino vocacional com uma escolha necessária aos 10 anos, seja
imediatamente criada uma nova área vocacional, a da esperteza nas certificações
de competências. E já agora criar também uma sub-área para a profissão de político
sem tempo para percorrer o já mais rápido caminho de uma licenciatura. Uma boa
campanha de comunicação com o ministro Relvas à cabeça teria um impacto
seguramente decisivo.
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