quinta-feira, 19 de julho de 2012

ESTRANHA DEMOCRACIA


Os jornais espanhóis fazem hoje eco de mais uma estranha originalidade na abordagem à crise da zona euro, neste caso o resgate financeiro da banca espanhola.
Foi finalmente conhecido o texto do acordo que conduziu ao resgate europeu da banca espanhola até ao máximo de 100 mil milhões de euros. Mas a originalidade prende-se com o facto do parlamento alemão ter tido conhecido do referido documento antes do congresso de deputados espanhóis para efeito da votação hoje ocorrida no Bundestag. Este simples facto diz bem da intensidade democrática com que a crise da zona euro está a ser resolvida, não tendo sido público o memorando de entendimento antes da votação no parlamento alemão, hoje concretizada com 473 votos favoráveis, 97 contra e 13 abstenções.
É esse desconhecimento que explica a surpresa com que foi hoje conhecida a possibilidade de parte dos 100 mil milhões, se não for totalmente injetado na banca, poder ser utilizado pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira para compra de dívida pública com prévia comunicação ao Eurogrupo.
Ainda admiti que essa possibilidade fosse restringida à aquisição de dívida pública detida pela banca espanhola. Mas pelo que se conhece do acordo hoje votado no Bundestag a possibilidade é mais ampla, podendo permitir intervenções no mercado primário e secundário.
Com tanto secretismo e um tempo tão longo de concretização entre as decisões das cimeiras europeias e a sua tradução em documentos concretos, legalmente eficazes, não é surpresa que os mercados não reajam com a clareza esperada. Aliás, na sua ida ao mercado, para maturidades de 2, 5 e 7 anos, a reação fraca da procura e as taxas praticadas a rondar os 7% na maturidade mais longa ilustram bem o grande ponto de interrogação que ainda pesa sobre a situação espanhola.

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