Os jornais espanhóis fazem hoje eco de mais uma estranha
originalidade na abordagem à crise da zona euro, neste caso o resgate
financeiro da banca espanhola.
Foi finalmente conhecido o texto do acordo que conduziu
ao resgate europeu da banca espanhola até ao máximo de 100 mil milhões de
euros. Mas a originalidade prende-se com o facto do parlamento alemão ter tido
conhecido do referido documento antes do congresso de deputados espanhóis para
efeito da votação hoje ocorrida no Bundestag. Este simples facto diz bem da
intensidade democrática com que a crise da zona euro está a ser resolvida, não
tendo sido público o memorando de entendimento antes da votação no parlamento
alemão, hoje concretizada com 473 votos favoráveis, 97 contra e 13 abstenções.
É esse desconhecimento que explica a surpresa com que foi
hoje conhecida a possibilidade de parte dos 100 mil milhões, se não for
totalmente injetado na banca, poder ser utilizado pelo Mecanismo Europeu de
Estabilidade Financeira para compra de dívida pública com prévia comunicação ao
Eurogrupo.
Ainda admiti que essa possibilidade fosse restringida à
aquisição de dívida pública detida pela banca espanhola. Mas pelo que se
conhece do acordo hoje votado no Bundestag a possibilidade é mais ampla,
podendo permitir intervenções no mercado primário e secundário.
Com tanto secretismo e um tempo tão longo de concretização
entre as decisões das cimeiras europeias e a sua tradução em documentos
concretos, legalmente eficazes, não é surpresa que os mercados não reajam com a
clareza esperada. Aliás, na sua ida ao mercado, para maturidades de 2, 5 e 7
anos, a reação fraca da procura e as taxas praticadas a rondar os 7% na
maturidade mais longa ilustram bem o grande ponto de interrogação que ainda
pesa sobre a situação espanhola.
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