terça-feira, 17 de julho de 2012

A FADIGA DO AJUSTAMENTO


A canícula que finalmente se abateu sobre o Alto Minho e a “pirosa” e pindérica feira medieval que ocupou literalmente as ruas de Caminha (produto de uma engenharia empresarial espanhola para papalvo português engolir) não são muito propícias a reflexões pesadas e complexas.
Face a uma atualidade nacional que está claramente em rendimentos decrescentes em clara antecipação do ir para banhos, fica por hoje a grande atividade do FMI, cada vez mais em divergência com as posições europeias, que se desdobrou em tomadas de posição e relatórios, ora com Lagarde na dianteira da opinião ora com o seu economista-chefe Olivier Blanchard a multiplicar-se também em pronunciamentos.
Blanchard é muito incisivo quando considera que a Itália e a Espanha são hoje os grandes riscos de instabilidade na economia mundial, afirmando preto no branco que estes países pagam hoje um sobrepreço de 200 pontos básicos no seu acesso a financiamento, que se explica não pelas suas debilidades internas mas antes pelas tensões sobre o mercado das dívidas soberanas. O discurso da austeridade continua a não produzir efeitos sobre o comportamento dos prémios de risco.
A pressão do FMI sobre o BCE continua forte, pressionando-o a retomar a compra de títulos da dívida de países periféricos em dificuldades, num claro jogo de transmissão de pressões e agora inspirado nos primeiros sinais de que a instabilidade da zona euro começa a ter impactos nas economias emergentes.
E no meio de tanto pronunciamento, o FMI acrescenta um novo conceito ao léxico das nossas tormentas: a fadiga de ajustamento. A economia portuguesa é vista com um percurso fortemente dependente do comportamento da economia mundial em queda anunciada, para além dos custos do ajustamento em curso, designadamente de ordem social, configurarem um comportamento de fadiga. A capacidade inventiva do léxico do mainstream da política económica em curso é prodigiosa. Já o próprio conceito de ajustamento (empobrecedor) tem que se lhe diga, mas o de fadiga de ajustamento soa já a um reconhecimento algo eufemístico do falhanço da abordagem, sobretudo no contexto de instabilidade e indeterminação da economia global.

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