A canícula que finalmente se abateu sobre o Alto Minho e
a “pirosa” e pindérica feira medieval que ocupou literalmente as ruas de
Caminha (produto de uma engenharia empresarial espanhola para papalvo português
engolir) não são muito propícias a reflexões pesadas e complexas.
Face a uma atualidade nacional que está claramente em rendimentos
decrescentes em clara antecipação do ir para banhos, fica por hoje a grande
atividade do FMI, cada vez mais em divergência com as posições europeias, que
se desdobrou em tomadas de posição e relatórios, ora com Lagarde na dianteira
da opinião ora com o seu economista-chefe Olivier Blanchard a multiplicar-se
também em pronunciamentos.
Blanchard é muito incisivo quando considera que a Itália
e a Espanha são hoje os grandes riscos de instabilidade na economia mundial,
afirmando preto no branco que estes países pagam hoje um sobrepreço de 200
pontos básicos no seu acesso a financiamento, que se explica não pelas suas debilidades
internas mas antes pelas tensões sobre o mercado das dívidas soberanas. O
discurso da austeridade continua a não produzir efeitos sobre o comportamento
dos prémios de risco.
A pressão do FMI sobre o BCE continua forte,
pressionando-o a retomar a compra de títulos da dívida de países periféricos em
dificuldades, num claro jogo de transmissão de pressões e agora inspirado nos primeiros
sinais de que a instabilidade da zona euro começa a ter impactos nas economias
emergentes.
E no meio de tanto pronunciamento, o FMI acrescenta um
novo conceito ao léxico das nossas tormentas: a fadiga de ajustamento.
A economia portuguesa é vista com um percurso fortemente dependente do
comportamento da economia mundial em queda anunciada, para além dos custos do ajustamento
em curso, designadamente de ordem social, configurarem um comportamento de
fadiga. A capacidade inventiva do léxico do mainstream
da política económica em curso é prodigiosa. Já o próprio conceito de
ajustamento (empobrecedor) tem que se lhe diga, mas o de fadiga de ajustamento
soa já a um reconhecimento algo eufemístico do falhanço da abordagem, sobretudo
no contexto de instabilidade e indeterminação da economia global.
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