A agonia de crescimento económico que a grande
maioria das economias maduras ocidentais tem vindo a experimentar, em torno da
qual tem sido utilizado o conceito de estagnação secular que Lawrence Summers
foi buscar aos trabalhos pioneiros de Alvin Hansen nos anos 30, tem concedido à
dimensão económica do crescimento e desenvolvimento o foco de todas as
atenções. Quer isso significar que a dimensão imaterial do desenvolvimento,
identificada por exemplo com a relevância dos fatores culturais e dos quadros
institucionais em que os grupos populacionais estão inseridos, tem sido algo
marginalizada por força do foco do debate. Não é coisa com que a teoria do
desenvolvimento não esteja familiarizada. Antes pelo contrário. A relação entre
os fatores materiais (económicos) e imateriais (essencialmente culturais e
institucionais) do desenvolvimento nunca foi plenamente resolvida pela teoria e
a interdisciplinaridade ou multidisciplinaridade não tem passado de uma ilusão
metodológica, não tendo dado origem a programas consistentes de investigação.
Sabemos que a diversidade desses fatores existe. Sabemos que, de acordo com as
situações históricas concretas, pesam relativamente mais ou menos. Mas o que a
investigação nos tem dado é uma oscilação do interesse por cada uma das
dimensões de análise. Nos últimos tempos, devido sobretudo à destruição de
produto e de recursos que a crise de 2007-2008 trouxe às economias de mercado,
ampliada pela miopia das políticas macroeconómicas sobretudo na Europa, a
dimensão económica do desenvolvimento tem afirmado inequivocamente a sua
influência. Outro fator decisivo para este foco de atenção consistiu na muito
significativa redução da pobreza absoluta que o crescimento económico conseguiu
concretizar em algumas economias mais dinâmicas, com a China à cabeça.
Porém, a relevância dos fatores culturais e
imateriais em geral tende a sair reforçada quando a unidade de análise dos
processos de desenvolvimento passa das nações ou países para os grupos de
população que protagonizam seja os casos melhor sucedidos de desenvolvimento
económico, seja as situações mais dramáticas de subdesenvolvimento e retrocesso
económico. O recrudescimento do islamismo radical tem colocado de novo os
fatores religiosos no foco dos economistas do desenvolvimento, contribuindo à
sua maneira para relançar o interesse sobre os fatores imateriais (culturais)
do desenvolvimento.
No blogue The Growth Economics (assinado por Dietz Vollrath da Universidade de
Houston que tem trabalhado assiduamente com o bem mais conhecido Charles I. Jones e que se
reivindica da tradição de Robert Solow), que vale a pena seguir regularmente,
podemos encontrar uma ampla recetividade aos temas da imaterialidade do
desenvolvimento, transferindo a análise das nações para os grupos de população
que nelas protagonizam os processos de desenvolvimento.
Num dos seus últimos contributos, o Growth Economics chama a atenção para a relevância do fator confiança como variável explicativa dos processos de
desenvolvimento, analisando a influência que os indicadores de trust exercem no desenvolvimento
económico, controlando claro está por outras variáveis.
Os resultados que são discutidos neste link apontam para maiores índices de
confiança nas sociedades escandinava e japonesa relativamente ao mundo
anglo-saxónico, descendo tais índices acentuadamente à medida que caminhamos
para sul e para os universos do subdesenvolvimento. Portugal alinha com as
sociedades espanhola e italiana com baixos índices de confiança.
A questão da confiança nos outros e também no
Estado revela-se assim uma condição facilitadora do funcionamento saudável do
mercado. Resta saber, o que não é fácil despistar nos estudos quantitativos que
suportam estas conclusões, se a variável confiança é totalmente independente
das condições de funcionamento da economia, do modo como as políticas públicas
são exercidas e do modo como por exemplo a corrupção é punida ou tolerada. Ou
seja, até que ponto as condições culturais que determinam a confiança nos
outros não são elas próprias construídas. Há evidências seguras na sociedade
portuguesa de que as condições de confiança têm vindo a agravar-se nos últimos
anos, constituindo mais um efeito perverso dinâmico do tão falado ajustamento pós
2011.
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