terça-feira, 27 de janeiro de 2015

OS PREÇOS DO PETRÓLEO EM PERÍODO LONGO



Primeiro, o petróleo era um recurso estratégico assumidamente barato e as companhias petrolíferas tudo iam fazendo para o defender enquanto tal (e não só, obviamente) contra os impulsos independentistas que emergiam nos países produtores. Depois, estes foram-se organizando e muitas escaramuças e guerras aconteceram sob a égide do petróleo. Entretanto, as subidas de preço tinham acabado por se tornar fatais e até se falou em choques petrolíferos (um primeiro em 1973/74 e um segundo em 1979/80 – incontornável recordar aqui aquele primeiro e histórico “Rapport du CEPII”, elaborado há mais de trinta anos, judiciosamente intitulado “Économie Mondiale: la Montée des Tensions” e de cuja ficha técnica constam o meu nome e o de Guilherme Costa). Seguidamente, e até próximo da recente crise de 2007/08, tivemos um longo período de relativa e aparente bonança entrecortado por picos de instabilidade nos preços do “ouro negro”. Uma instabilidade que adquiriu toda uma outra amplitude se atentarmos no ioió dos últimos anos, marcados por súbitos e muito expressivos altos e baixos do preço do petróleo.

Perdido no meio destas ideias genericamente válidas, de que o gráfico acima dá aliás boa conta através do registo da evolução do preço do barril de petróleo ao longo de quase meio século e dos factos históricos que lhe terão estado mais diretamente associados, decidi dar-me ao trabalho de uma verificação algo mais rigorosa. Ou seja, e recorrendo a dados históricos mensais remontando a 1946 e à transformação desses valores nominais em valores reais (deflacionados pelo índice de inflação), cheguei à resultante mostrada no gráfico abaixo em que ficam bem patentes diversos tópicos analíticos salientes: o período do petróleo barato (grosso modo, até ao final de 1973 e pontuado com valores e datas a verde), a expressão muito significativa do segundo choque petrolífero (máximo a vermelho em abril de 1980) e o seu duradouro impacto durante a crise da primeira metade dos anos 80, os vinte anos de preços relativamente estabilizados (com ligeiros picos) nitidamente abaixo dos níveis atingidos no primeiro choque petrolífero, os saltos recentemente registados com um recorde absoluto atingido em junho de 2008, uma queda abrupta oito meses depois, uma nova subida para níveis superiores aos do segundo choque em abril de 2011 e uma nova queda abrupta que agora estamos a conhecer. Com as coisas assim postas em contexto, não é verdade que as mesmas se tornam bem mais inteligíveis?

(Construção própria a partir de http://www.macrotrends.net)

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