O cartunista Erlich, recém-saído do “El País”, tem ciclicamente por hábito assinar séries de vinhetas que batiza sob esta forma acrescidamente irónica. Pois foi isso que logo me saltou à cabeça quando ontem, após esfregar os olhos para me certificar de que estava devidamente acordado, ouvi uma peça de final de tarde na TSF em que um administrador da ESCOM (Luís Horta e Costa, imagens acima) confirmava, em audição parlamentar sobre o caso BES, que transferiu vários milhões de euros para as contas dos membros do Conselho Superior do GES sem questionar porquê – cito-o: “a única coisa que nós fizemos foi por orientação do Conselho Superior, nós fizemos pagamentos a pessoas indicadas ou contas indicadas pelo Conselho Superior; o senhor deputado pode-me perguntar ‘mas porquê, a que título?’; ó pá, porque para mim eles eram os acionistas da empresa, eles é que eram os donos da empresa e, portanto, quando eles nos dizem ‘pá, transfiram isto para as contas tais, tais e tais’, a gente faz”. Chega a ser quase comovente observar como está lá quase tudo em termos dos bons e melhores mandamentos – a começar pela abnegação e desapego, pela confiança no próximo e pelo respeito para com a autoridade –, os cúmulos que a candura pode alcançar! Ou serão só, afinal, máximos de desfaçatez, ó pá?
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