sábado, 10 de janeiro de 2015

AS IMPRESSÕES ACIDENTAIS (II)



Continuo. Com prioridade à política, porque não? Depois de um ano marcado por uma disputa eleitoral muito apertada, e que culminou com uma reeleição que chegou a ser dada por improvável da ex-presidenta, o “dia primeiro” foi o da posse para um novo mandato que já vai sendo conhecido por “Dilma 2.0”.

A nova equipa económica já tinha sido objeto de divulgação pública no início do mês passado – sobretudo a troika que de algum modo passam a constituir o novo ministro da Fazenda (vindo do Bradesco), Joaquim Levy, o mantido presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa – e parece focada numa alteração das relações do Estado com as forças do mercado e na urgência de um processo relativamente drástico de ajustamento. Eis como açucaradamente o explicou Levy: “Certas despesas tiveram uma multiplicação significativa, impossível de ser sustentada”.



Mas não falta quem augure tempos muito difíceis para a dita equipa económica, especialmente tendo em atenção o modo artificialmente intervencionista como o PT e Dilma leem e exercem a política e a forma intransigente como a presidenta se viciou em fazer valer a sua autoridade decisória em matérias económicas. Não obstante, e enquanto alguns insistem convictamente em que as cedências à direita não passam de aparentes e apenas decorrem do estado de necessidade de uma titular eleita à tangente e acossada por sequências intermináveis de escândalos, há também quem argumente que Dilma estará a mostrar finalmente a sua verdadeira natureza de política conservadora (a ponto de patrocinar uma ligação entre o PT e a escola de Chicago). Uma matéria que não tardará a ser melhor esclarecida...


(Chico Caruso, http://oglobo.globo.com )

Corrupções, condenações e controvérsias dessas à parte, e já com os graves acontecimentos do “petrolão” a quase tornarem irrelevantes as manigâncias atropeladas dos “mensaleiros” – Dirceu até já foi passar o Natal a casa, mas o “efeito Lava Jato” sofrido pela Petrobrás, que tem perdido valor a olhos vistos, ainda não convenceu Dilma a abdicar da proteção que consagra à presidente Graça Foster –, o certo é que nada permite vaticinar que as dificuldades de Dilma possam vir a conhecer qualquer afrouxamento.



Finalmente, é de registar que o melindre da situação que envolve Dilma já ficara bem patente no decurso da árdua, burilada e aleatória construção/negociação de um governo enorme (39 ministérios, caras e títulos abaixo) e pluripartidário (15 ministros do PT, 6 do PMDB, 2 do PSD, 1 de cada um dos restantes 7 partidos integrantes da base de apoio governamental e 9 sem filiação partidária). Assim como que, com a máquina governativa ainda em pleno reaquecimento de motores, já são demasiadas as minudências e as questiúnculas – dois exemplos quase anedóticos, e para não referir a nomeação ministerial do filho de Jader Barbalho: a ex-ministra da Cultura Marta Suplicy declarando que “a população não faz ideia dos desmandos que esse senhor [Juca Ferreira, regressado ao posto] promoveu à frente da cultura brasileira” e o novo ministro do Esporte George Hilton (o pastor evangélico e deputado federal do PRB, a que aderiu após ter sido expulso do PFL por ter sido apanhado em flagrante no aeroporto de BH com 600 mil reais em 11 caixas de cheques e notas, na foto abaixo sendo ternurentamente abraçado pelo antecessor) declarando em ano pré-Olimpíadas do Rio que “posso não entender profundamente de esporte, mas entendo de gente”. E se estes “casos” por ora apenas parecem fazer as delícias dos tabloides, talvez acabem também por ir abrindo caminho ao que de mais sério dizem estar à bica de explodir nessa Brasília que, segundo o velho Millôr, Niemeyer deveria ter feito de vidro...


(Millôr Fernandes, reprodução a partir do livro “100+100 Desenhos e Frases”)

Sem comentários:

Enviar um comentário