quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

SYRIZA: ALGURES ENTRE DESASTRES E SALVAMENTOS


Farto das referências hipersimplistas ao esquerdismo/extremismo do Syriza, partido que lidera as intenções de voto na Grécia, e às alegadas consequências desastrosas de uma eventual vitória de Tsipras no próximo domingo (dos gregos a abandonarem ou serem expulsos da Zona Euro à própria implosão desta e até da União Europeia), dediquei algum tempo ao interessante e instrutivo exercício de procurar conhecer melhor os perigosos ditos, das pessoas concretas aos seus estados de espírito, das visões ideológicas aos seus “estados da arte”, das proclamações aos programas concretos.

De entre a variada documentação disponível, saliento um texto recente de Paul Mason, muito sintomaticamente intitulado “Inside Syriza’s economic brain”, que alude precisamente a uma tal tentativa há dias realizada na “London School of Economics” por via de um confronto de ideias e perspetivas entre o professor universitário Euclid Tsakalotos (tido por ser o ministro das Finanças de uma espécie de governo- sombra do Syriza) e vários economistas, gestores de dívida e analistas baseados em Londres e insuspeitos de qualquer cedência à heterodoxia económica ou política.

Sublinho de seguida algumas ideias-força ali apresentadas como tendo sido veiculadas por Tsakalotos, como verão nem sempre as mais expectáveis por parte dos críticos mais preguiçosos (que preferem a mera caricatura do radicalismo) embora também não necessariamente as mais convencionais em parte significativa dos casos. Vejamos:

1. a necessidade apontada de um “espaço orçamental” para a Grécia (6 a 7 mil milhões de euros anuais) para promoção de medidas de crescimento, para o que seriam cancelados os orçamentos de austeridade acordados com a UE e o FMI, devolvidos os empréstimos ao FMI e objeto de reescalonamento e write off os empréstimos europeus;

2. a exigência central de um haircut na dívida pública grega e de um abandono do atual objetivo de excedente primário de 4,5% do PIB;

3. a defesa firme de que “faz pouco sentido estarmos no governo se não pudermos levar a cabo algumas intervenções emblemáticas [de alívio face à crise humanitária, de relançamento da economia, incluindo empréstimos não reprodutivos e atrasos fiscais, de equilíbrio entre o Estado e a sociedade] nos primeiros seis meses”;

4. o convencimento de que será concedido tempo de negociação à Grécia, designadamente na medida em que não se trataria de um abandono unilateral de um programa de assistência mas sim de fazer uma ponte entre o velho programa e um programa novo;

5. a afirmação clara de que a manutenção no Euro é uma questão resolvida pela positiva dentro do Syriza, assim como a de que a Grécia – e os outros países periféricos – não devem aceitar ser excluídos do programa de quantitative easing nem qualquer limitação à sua capacidade de imprimir moeda através da ELA (European Liquidity Assistance);

6. a consciência plena das dificuldades de uma gestão política capaz de manter alinhados um programa efetivamente social-democrata, um BCE predominantemente austeritário e uma maioria de eleitores (somada a uma fração mais combativa dentro do Syriza) a reivindicar mudança imediata.

Poderá nestes termos uma chegada do Syriza ao poder vir a traduzir-se também num contributo para a efetiva emergência de desenvolvimentos na Europa que se contraponham ao persistente quebra-galho em baixa que vimos experimentando, até que algum populismo se lhe sobreponha? Bom, e apesar de a palavra de Tsakalotos expressar bem o reconhecimento de que existe um relativo abismo entre o Syriza e a Troika quanto ao que pode ser considerado realisticamente factível, o seu otimismo também deixou a sua marca e algum rasto. Quer porque “em qualquer período de transição, existe um choque de realidades” quer porque, consequentemente, “algumas coisas que são agora vistas como irrealistas mudam com o equilíbrio político de forças”. Desafiante sem dúvida, mas decerto que não vai ser nada fácil!

(Beppe Giacobbe, http://www.corriere.it)

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