Recebi esta semana um simpático mail assinado
pelo António Pedro Vasconcelos, com intermediação do José Maria Castro Caldas,
convidando-me a subscrever a petição NÃO TAP OS OLHOS, que visa iniciar um
processo de sobressalto cívico destinado a “impedir” a venda da TAP, neste caso
concreto dos 66% de capital social anunciados esta semana.
Escrevo sem conhecer os termos do caderno de
encargos que o Conselho de Ministros terá aprovado hoje para enquadrar a
referida operação com que à pressa o governo quer pontuar a sua intervenção até
às próximas eleições. Por isso, essa ausência de informação pode ter alguma
consequência para a consistência deste post,
mas nada me garante que vá ter essa informação disponível a breve trecho.
Já por repetidas vezes dei aqui conta de que não
me considero alguém muito representativo para animar petições e manifestos, sou
pouco conhecido nos meios relevantes para influenciar a opinião pública com
estes manifestos e petições, e recentemente um chico esperto qualquer, com
assento no registo e notariado, resolveu manchar o nome António Figueiredo com
umas deambulações em torno dos vistos GOLD. Contam-se assim pelos dedos,
poucos, as petições e manifestos que suscitaram a minha adesão.
O caso da TAP e da sua não privatização não foge
a essa regra, acrescendo que nas condições atuais tenho imensas dúvidas sobre a
manutenção da TAP como empresa pública, sobretudo como empresa sustentável
financeiramente capaz de assumir os investimentos necessários para a manter
competitiva num mercado extremamente exigente e no qual escasseiam já as
chamadas companhias de bandeira.
Mas neste momento o meu problema não está na
devida avaliação do dossier TAP. O
que acontece é que no meu entendimento da situação atual que se coloca a uma
alternativa de governação em Portugal a posição da TAP não pode ser tomada sem
um alargamento considerável do campo das escolhas públicas que se colocam à
governação.
Por razões meramente profissionais, tive hoje
contacto com a miserável situação em que se encontram os serviços públicos de
emprego e sobretudo a tragédia que é o trabalho de ativação de desempregados em
Portugal, totalmente desprovido de meios e condições para acompanhar
individualmente os desempregados nas suas especificidades de difícil reentrada
no mercado de trabalho. Quer isto significar que, face à exiguidade dos meios
orçamentais que lhe são dedicados, a política de ativação de desempregados é
totalmente incapaz de fazer aplicar a lógica de serviço público para que foi
criada. As diferenças entre os desempregados em matéria de competências para a
procura de um novo posto de trabalho, de enquadramento familiar e de
rendimento, de contacto com a doença e problemas depressivos, de idade, de género
e de duração da permanência no desemprego não são integradas na abordagem à sua
ativação. Porquê? Porque não há meios nem dotação orçamental para o fazer.
Portanto, escolhas públicas que transcendem o
problema da TAP, ou melhor que as opções sobre a TAP e outras opções não podem
ignorar numa alternativa global de governação.
Sem comentários:
Enviar um comentário