(Thomas Piketty na livraria Juan Rulfo, Msdrid)
Embora Thomas Piketty dê mostra de não estar
particularmente à vontade nas ações de divulgação comercial da sua obra estrela
de 2014, contratos são contratos, e lá vai prosseguindo a sua digressão pelo
mundo, com entrevistas e mais entrevistas sobre o tema da desigualdade. Há fenómenos
assim, desconcertantes pelo inusitado alcance de notoriedade que temas,
aparentemente secundários até um certo momento, passam a adquirir. Foi isso que
se passou com o tema da desigualdade. No mainstream
económico, a desigualdade perdia notoriedade essencialmente por duas razões. Por
um lado, aderindo à velha ideia neoclássica de que trabalho e capital são
remunerados à sua produtividade marginal, são as condições tecnológicas e a escassez
relativa dos fatores a comandar a repartição do rendimento. Por outro lado, se
pretendermos explicar a desigualdade por outras dimensões como as condições de
exploração e de assimetrias do poder económico ou político, a captura de
rendas, o capitalismo de compadrio ou outras “imperfeições” de mercado, o mainstream económico dirá que isso
equivale a contaminar a teoria económica com matérias do foro político.
Piketty trocou as voltas a esta escapatória
explicativa, discutindo a desigualdade económica no longo prazo esgrimindo com
conceitos que o mainstream não pode estigmatizar
com a ideia da contaminação política: taxa de juro, taxa de crescimento económico,
taxa de acumulação do capital e da riqueza e alguns outros.
Por isso, O Capital no século
XXI lá vai fazendo a sua
marcha comercial pelo mundo. Piketty esteve recentemente em Madrid, onde se
desdobrou em entrevistas e sessões de autógrafos e pequenas charlas com os
jornalistas em livrarias. Nas entrevistas ao El Mundo e ao El País,
Piketty aprofundou algumas das suas ideias e em Espanha, como não podia deixar
de ser, destacou a relevância do desemprego como o principal instrumento gerador
de desigualdade e admitiu a necessidade de reformas laborais e de modernização
do Estado Social visando a sua maior eficácia, colocando as questões da
desigualdade no centro dessa modernização.
A década de 1990 a 2000 veio trazer à
desigualdade mundial novos cambiantes mostrando como os percentis de rendimento
mais elevados viram o seu rendimento crescer a taxas mais elevadas do que a dos
percentis mais baixos (ver artigo de Milanovic e Van der Weide no VOX EU). Todas
as evidências sugerem que essa tendência de agravamento se confirmou desde então,
com particular relevância para o pós Grande Recessão de 2007-2008.
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