segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

PIKETTY ON THE ROAD

(Thomas Piketty na livraria Juan Rulfo, Msdrid)


Embora Thomas Piketty dê mostra de não estar particularmente à vontade nas ações de divulgação comercial da sua obra estrela de 2014, contratos são contratos, e lá vai prosseguindo a sua digressão pelo mundo, com entrevistas e mais entrevistas sobre o tema da desigualdade. Há fenómenos assim, desconcertantes pelo inusitado alcance de notoriedade que temas, aparentemente secundários até um certo momento, passam a adquirir. Foi isso que se passou com o tema da desigualdade. No mainstream económico, a desigualdade perdia notoriedade essencialmente por duas razões. Por um lado, aderindo à velha ideia neoclássica de que trabalho e capital são remunerados à sua produtividade marginal, são as condições tecnológicas e a escassez relativa dos fatores a comandar a repartição do rendimento. Por outro lado, se pretendermos explicar a desigualdade por outras dimensões como as condições de exploração e de assimetrias do poder económico ou político, a captura de rendas, o capitalismo de compadrio ou outras “imperfeições” de mercado, o mainstream económico dirá que isso equivale a contaminar a teoria económica com matérias do foro político.
Piketty trocou as voltas a esta escapatória explicativa, discutindo a desigualdade económica no longo prazo esgrimindo com conceitos que o mainstream não pode estigmatizar com a ideia da contaminação política: taxa de juro, taxa de crescimento económico, taxa de acumulação do capital e da riqueza e alguns outros.
Por isso, O Capital no século XXI  lá vai fazendo a sua marcha comercial pelo mundo. Piketty esteve recentemente em Madrid, onde se desdobrou em entrevistas e sessões de autógrafos e pequenas charlas com os jornalistas em livrarias. Nas entrevistas ao El Mundo e ao El País, Piketty aprofundou algumas das suas ideias e em Espanha, como não podia deixar de ser, destacou a relevância do desemprego como o principal instrumento gerador de desigualdade e admitiu a necessidade de reformas laborais e de modernização do Estado Social visando a sua maior eficácia, colocando as questões da desigualdade no centro dessa modernização.


A década de 1990 a 2000 veio trazer à desigualdade mundial novos cambiantes mostrando como os percentis de rendimento mais elevados viram o seu rendimento crescer a taxas mais elevadas do que a dos percentis mais baixos (ver artigo de Milanovic e Van der Weide no VOX EU). Todas as evidências sugerem que essa tendência de agravamento se confirmou desde então, com particular relevância para o pós Grande Recessão de 2007-2008.

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