sábado, 31 de janeiro de 2015

MENTIRA SEGUNDO ANÍBAL


Cavaco tem uma especial vocação para a asneira, o que somado à sua boçalidade e à dimensão incomparável do seu ego só serve para criar conflitos e para desacreditar os homens públicos de boa fé. Vejamos o caso mais recente: depois de Ricardo Salgado ter informado a comissão parlamentar de inquérito ao BES de que teria tido com o PR uma reunião em maio para o alertar em relação aos riscos sistémicos que podiam estar no horizonte, Cavaco declarou ontem o seguinte, e cito: “Eu já reparei que alguns dos senhores e também alguns políticos disseram e escreveram que o Presidente da República fez alguma declaração sobre o BES – é mentira! É mentira! Alguns invocam uma declaração que eu fiz na Coreia – na Coreia, eu fiz três afirmações sobre o Banco de Portugal e mais nada”.

Ora, recuperando as declarações do PR aquando da sua referida visita à Coreia, temos então, e volto a citar: “O Banco de Portugal tem sido perentório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo, dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo numa situação mais adversa”. Cavaco falou realmente sobre o BP, mas também sobre o que o BP afirmava em relação ao BES e, nessa medida, ao fazê-lo num quadro de grandes elogios a Carlos Costa estava a colocar a sua chancela e a assumir perante os cidadãos a justeza de tais afirmações.

Eis, pois, a verdade da mentira ou a mentira da verdade. Porque o problema não foi o de Cavaco receber Salgado nem o de se informar junto do BP sobre a situação de entidades financeiras nacionais. O problema foi, isso sim, o de ter deixado transparecer das suas declarações asiáticas uma vontade de transmitir uma leitura de confiança no BES aos portugueses, assim induzindo em alguns (incluindo Pinto da Costa) tranquilidade quanto ao seu investimento na compra de ações do aumento de capital. Além de que, se Salgado lhe falou realmente em riscos sistémicos, seria razoável esperar de um chefe de Estado muita contenção e cautela quanto ao que viesse a pronunciar na matéria. Dito isto, qualquer pessoa de boa e católica formação lamentaria o mal entendido, deploraria a situação ocorrida no BES, compadecer-se-ia das perdas dos pequenos acionistas e seguiria adiante de cabeça entre as orelhas – só que Cavaco não é feito dessa massa porque Cavaco não é um qualquer...

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