O Algarve tem sido nos últimos tempos uma frente
para o meu trabalho de andarilho do planeamento e com inverno rigoroso até a
amenidade algarvia não escapa e daí o ar desolador do aeroporto, com pouco mais
de 12 voos de partida por dia e nos quais o Ryanair Porto-Faro-Porto continua a
intrigar-me pela constância de fluxos não turísticos que é possível pressentir
em cada viagem e têm sido numerosas como caso de estudo.
À medida que mergulho cada vez mais, não no mar
algarvio, mas no seu terreno social e de iniciativa económica, mais me
impressiona a incapacidade política da Região em definir a sua
representatividade no espaço de políticas públicas. O rendimento per capita da
Região é enganoso do ponto de vista da medida de pulso ao seu desenvolvimento
efetivo. E retirando a defesa dos interesses turísticos da Região no quadro de
interesses nacionais em torno do setor, escasseiam os exemplos de afirmação da
Região do ponto de vista dos seus desafios de desenvolvimento. Mesmo a defesa
dos interesses turísticos constitui uma defesa tout court dos interesses setoriais, não sendo capaz por exemplo de
reivindicar para a Região um sistema de saúde compatível com o seu elevado grau
de exposição externa.
O exemplo de hoje é pedagógico e ilustra bem os
desvios e desvarios a que a não defesa integrada e global dos interesses da
Região tem conduzido.
Desde praticamente 2008-2009,ainda por decisão e
entusiasmo do então Presidente da CCDR Algarve Dr. João Faria, esta entidade
abalançou-se a construir uma plataforma digital das zonas de acolhimento
empresarial (ou com função atribuída nesse domínio por força dos Planos
Diretores Municipais em vigor) e de edificado para o mesmo efeito existentes na
Região (75 espaços para 16 municípios). Essa plataforma documenta com rigor as
características da zona, o estado de gestação em que se encontra, o tipo de
ocupação com informação sobre as empresas envolvidas e permite ainda um motor
de busca bastante operacional que permite identificar o tipo de zona de
acolhimento empresarial em que possamos estar interessados. Mais ainda, a CCDR
Algarve consegue atualizar a informação respeitante aos 75 espaços, com
periodicidade semestral, e fornece ainda indicadores de base socioeconómicos e
de acessibilidade de cada um dos espaços.
A Plataforma Algarve Acolhe é inequivocamente a
boa prática existente a nível nacional, constituindo a experiência mais acabada
de procura de divulgação de um ativo da Região e dos municípios em geral,
representando hoje uma referência para qualquer subespaço do território
nacional interessado em divulgar os ativos de acolhimento que pode proporcionar
a qualquer investidor interessado.
Ora, o que me espanta neste país conhecido e no
qual a qualquer esquina deparamos com mais um incongruência, é a incapacidade
da Região e da promoção do país utilizar e rendibilizar este capital.
Em primeiro lugar, espanta-me o desinteresse
organizacional e promocional dos municípios em velar por que a informação vital
disponibilizada na plataforma corresponda a uma aposta de valorização e procura
de retorno ao investimento infraestrutural realizado. É verdade que os Fundos
Estruturais a fundo perdido são nestes domínios uma perdição, pois
infraestrutura-se, umas vezes até se aliena o espaço, mas perde-se totalmente o
sentido de ativo a valorizar. Um indicador relevante mostra esta incapacidade.
Cerca de 3 áreas de acolhimento apenas dispõem de modelos de gestão de serviços
comuns, evidenciando bem como este tipo de investimentos está regra geral a léguas
de poder ser considerado um investimento na competitividade territorial.
Depois, a plataforma é olímpica e malevolamente
(na minha interpretação) ignorada por uma AICEP que dispõe de uma plataforma própria
que relativamente ao Algarve tem uma cobertura péssima e está a anos-luz do
rigor com que o Algarve Acolhe documenta os ativos de localização da Região. A plataforma da Global Parques - AICEP é toda ela um frenesim de cultura aguerrida de marketing,
mas com larguíssimo desconhecimento do território, certamente marcado por mapas
mentais do território nacional que representam bem a estreiteza de vistas dos
jovenzinhos (essencialmente centristas) que povoam as sedes de poder em que o
PP conseguiu meter a unha.
Dito de forma crua, o Algarve tem uma excelente
plataforma de divulgação dos seus ativos de acolhimento mas esse capital não
está defendido, nem pelos municípios investidores desses ativos, nem pela
promoção nacional. Por outras palavras, a Região não está defendida e tinha
paradoxalmente condições para o ser. Aqui está um domínio em que a atomização
municipal e a promoção nacional sem o mapa mental correto do país desprotegem
um território através do qual o país ganha notoriedade e também exposição. Um
espaço vazio que algum dia tem de ser preenchido e não necessariamente apenas
pela regionalização.
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