O post
que redigi ontem sobre a Petição NÃO TAP OS OLHOS
foi elaborado antes de ter conhecimento sobre mais uma novela governamental,
transformada em trapalhada que, como dizia ontem José Pacheco Pereira no
Quadratura, devidamente psicanalisada e deitada no divã, nos daria um sentido
bem mais lato de fina retaliação. Aparentemente, o ministro Pires de Lima e o
secretário de Estado Sérgio Monteiro queriam transformar o estado de direito e
premiar os bons sindicalistas, afastando dos efeitos práticos do acordo os
sindicatos que não o assinaram.
A incomodidade de António Lobo Xavier condoeu os
espectadores mais bondosos, primeiro porque a sua proximidade a Pires de Lima e
à sua auréola de ministro competente e conhecedor dos meandros empresariais
tornava incompreensível tamanha enormidade e, segundo, porque no meio do seu discurso deixou
escapar uma referência a um “honesto e
rigoroso” secretário de Estado.
Quando formos capazes de realizar uma avaliação
mais fria e distanciada do que foi a governação da maioria, com um estudo
documentado dos desvarios e opções mais discutíveis deste executivo, iremos identificar
Sérgio Monteiro como um dos governantes mais poderosos e, em meu entender, como
um dos mais aguerridos defensores da ideologia governativa de que Passos Coelho
costuma reivindicar-se. Face aos elementos de informação que fui coligindo ao
longo da governação da maioria, o emblema de “honesto e rigoroso” a que Lobo
Xavier se referiu estará mais pálido e sem cor do que o painelista fez passar.
E já não falo do flic-flac do secretário de Estado com a transferência de um SWAP
problemático para o Estado, acompanhando a sua passagem de administrador de
consórcio promotor de PPP para a de secretário de Estado. Se essa operação teve
esses contornos que a oposição parlamentar tem vindo a esgrimir, então a coisa
pia mais fino e de “honesto e rigoroso” estaremos conversados.
Mas há mais. Tive informações que Sérgio Monteiro
foi um dos interlocutores que mais surpreendeu as missões técnicas da TROIKA
com alusões claras a que a haver ajustamentos eles teriam mais probabilidade de
serem eficazes se aplicados através de cortes sociais do que por via de redução
de rendas ou renegociação de PPP. Pois, há que preservar bem as condições de
regresso à casa mãe. A influência de Sérgio Monteiro na criação de condições
para que o “novo Porto de Lisboa”, sem qualquer articulação estratégica com os
ativos existentes, é referenciada por muitas fontes próximas do processo, atónitos
com a facilidade como se ignora o potencial de crescimento de Sines, Leixões e
outros portos com potencial de crescimento e se descobre uma vocação portuária
para Lisboa. Há ainda vozes que afirmam que a gestão que Sérgio Monteiro fez da
aplicação das prioridades do corredor ferroviário do Atlântico foi bastante
penalizadora para a ligação Aveiro-Salamanca crucial para o porto de Leixões e
que acabou por compor-se na versão final da rede.
Por tudo isto, o supostamente rigoroso Sérgio é
uma boa encomenda.
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