sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

SÉRGIO, O SUPOSTAMENTE RIGOROSO



O post que redigi ontem sobre a Petição NÃO TAP OS OLHOS foi elaborado antes de ter conhecimento sobre mais uma novela governamental, transformada em trapalhada que, como dizia ontem José Pacheco Pereira no Quadratura, devidamente psicanalisada e deitada no divã, nos daria um sentido bem mais lato de fina retaliação. Aparentemente, o ministro Pires de Lima e o secretário de Estado Sérgio Monteiro queriam transformar o estado de direito e premiar os bons sindicalistas, afastando dos efeitos práticos do acordo os sindicatos que não o assinaram.
A incomodidade de António Lobo Xavier condoeu os espectadores mais bondosos, primeiro porque a sua proximidade a Pires de Lima e à sua auréola de ministro competente e conhecedor dos meandros empresariais tornava incompreensível tamanha enormidade e, segundo, porque no meio do seu discurso deixou escapar uma referência a um “honesto e rigoroso” secretário de Estado.
Quando formos capazes de realizar uma avaliação mais fria e distanciada do que foi a governação da maioria, com um estudo documentado dos desvarios e opções mais discutíveis deste executivo, iremos identificar Sérgio Monteiro como um dos governantes mais poderosos e, em meu entender, como um dos mais aguerridos defensores da ideologia governativa de que Passos Coelho costuma reivindicar-se. Face aos elementos de informação que fui coligindo ao longo da governação da maioria, o emblema de “honesto e rigoroso” a que Lobo Xavier se referiu estará mais pálido e sem cor do que o painelista fez passar.
E já não falo do flic-flac do secretário de Estado com a transferência de um SWAP problemático para o Estado, acompanhando a sua passagem de administrador de consórcio promotor de PPP para a de secretário de Estado. Se essa operação teve esses contornos que a oposição parlamentar tem vindo a esgrimir, então a coisa pia mais fino e de “honesto e rigoroso” estaremos conversados.
Mas há mais. Tive informações que Sérgio Monteiro foi um dos interlocutores que mais surpreendeu as missões técnicas da TROIKA com alusões claras a que a haver ajustamentos eles teriam mais probabilidade de serem eficazes se aplicados através de cortes sociais do que por via de redução de rendas ou renegociação de PPP. Pois, há que preservar bem as condições de regresso à casa mãe. A influência de Sérgio Monteiro na criação de condições para que o “novo Porto de Lisboa”, sem qualquer articulação estratégica com os ativos existentes, é referenciada por muitas fontes próximas do processo, atónitos com a facilidade como se ignora o potencial de crescimento de Sines, Leixões e outros portos com potencial de crescimento e se descobre uma vocação portuária para Lisboa. Há ainda vozes que afirmam que a gestão que Sérgio Monteiro fez da aplicação das prioridades do corredor ferroviário do Atlântico foi bastante penalizadora para a ligação Aveiro-Salamanca crucial para o porto de Leixões e que acabou por compor-se na versão final da rede.
Por tudo isto, o supostamente rigoroso Sérgio é uma boa encomenda.

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