sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

VOANDO SOBRE O NINHO DA CIÊNCIA EM PORTUGAL



Não há dúvida que sou homem de espírito aberto e bondoso. Em post anterior, de já há alguns dias, mencionei aqui os resultados de avaliação exterior e internacional dos centros de investigação em Portugal que, à primeira lupa, evidenciava regularidades relativamente consensuais quanto aos padrões de excelência científica reconhecidos na ciência portuguesa.
Mas o diabo está nos detalhes e neste caso a porca torceu o rabo na transposição dos resultados dos painéis internacionais para os padrões e volumes de financiamento a atribuir aos centros sob avaliação. Admito que no contexto vigente da alocação de recursos públicos em Portugal haja centros que não obtiveram resultados acima do cut-off estabelecido pelo governo e que, por essa via, verão ameaçada a sua estabilidade (reprodução simples) já para não falar em perspetivas credíveis de crescimento e internacionalização. Os rumores suscitados tudo indica que não foram essencialmente determinados pelas exclusões de financiamento, mas antes pela distribuição do financiamento.
Como assim? Então em segunda aplicação os painéis internacionais não viram os seus resultados reconhecidos?
O que acontece, segundo informações que obtive junto de alguns elementos conhecidos da comunidade científica, é que os critérios de atribuição do financiamento não resultaram dos resultados da avaliação internacional. A distribuição do financiamento resultou ao que tudo indica de critérios estabelecidos pela própria FCT e de uma coluna algo intrigante que a FCT designou de ajustamentos.
Uma das consequências mais gritantes foi que as diferenças de financiamento per capita entre as instituições foram enormes e aparentemente sem explicação. Assim, é possível descortinar centros de investigação que praticamente com a mesma classificação e a mesma intensidade laboratorial apresentam desvios enormes de financiamento per capita. Resultado, o Conselho de Reitores reagiu com veemência, o painel de avaliadores internacionais está perplexo pois da sua avaliação não resultava esse tipo de desvios e a própria Agência reguladora vê-se obrigada a uma de duas, ou a não respeitar a classificação FCT, ou a respeitá-la e a ter de anular cursos de doutoramento que tinha aprovado.
Temos aqui um toque de Crato, ou toque de FCT ao invés, ou seja tudo que tocam sai furado.
Mas para mim a metáfora é antes a de nunca sabermos se o governo é apenas desajeitado e incompetente ou se é malevolamente desajeitado. O que não importa, pois ambos os cenários nos conduzem à conclusão certa, erradicá-los democraticamente de cena.

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