segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

AS IMPRESSÕES ACIDENTAIS (V)


Vamos às cidades, obviamente limitados às três por onde passei. Registo número um: a segurança a dar sinais muito significativos de forte melhoria – mesmo que à custa de um exageradamente visível policiamento nas ruas e apesar da cortina de fumo que parece ainda ir ajudando a esconder algumas situações de confronto aberto em várias favelas do Rio (Complexo do Alemão, em especial).

Registo número dois: as infraestruturas a melhorarem a passos largos, sendo os casos mais notórios o remodeladíssimo aeroporto de Guarulhos em São Paulo e a nova via BRT (“Linha Amarela”) que liga o Galeão à Barra da Tijuca, as obras que vão em breve levar o “metrô” ao Leblon e a renovação em curso de uma Praça XV que quase se tinha tornado repulsiva no Rio de Janeiro.

Registo número três: a crescente confirmação, à medida que mais vou conhecendo, da densidade do património histórico-cultural de raiz portuguesa existente no Centro do Rio e em todo Salvador. Aqui, e das 365 igrejas que o folclore local jura existirem por lá (uma para cada dia – as autoridades eclesiásticas afirmam que são 372), uma menção muito especial é devida à Igreja e ao Convento de São Francisco (quiçá as expressões mais emblemáticas do barroco brasileiro) e à belíssima fachada da contígua Igreja da Ordem Terceira onde releva uma interessante e original série de azulejos pintados em Portugal retratando a Lisboa anterior ao terramoto de 1755.


Registo número quatro: a visita tantas vezes adiada e agora finalmente concretizada à Petrópolis do filho mais novo do nosso D. Pedro IV, esse Pedro de Alcântara que por lá foi o Imperador Pedro II – um compensador momento de reencontro com a nossa História (abaixo uma carruagem de caminho de ferro com o nome de Maria Leopoldina da Áustria, a esposa de D. Pedro IV que enquanto regente em Portugal promulgou a independência brasileira), como já antes o fora aquela simbólica passagem pela janela do “Dia do Fico” (1822) no Paço Imperial do Rio.


Registo número cinco, para um mero cheirinho em torno do imobiliário: apesar do enorme dinamismo económico de São Paulo e da centralidade política de Brasília, o Rio de Janeiro persiste como o município brasileiro com o valor médio do metro quadrado mais elevado de todo o país. E, ao que dizem convictamente os cariocas, o Leblon estará mesmo nos bairros mais caros do mundo (23056 reais por metro quadrado, mais do dobro do preço médio da cidade e bem acima do máximo de 14722 no Jardim Europa de São Paulo) – ao que os números mais recentes indicam, um T3 pode chegar aos 5 milhões de reais (e um T4 a 8 milhões) naquela área mais nobre da Zona Sul (onde um T3 alugado dificilmente custará menos de 10 mil reais mensais), mas são também proibitivos os preços em Ipanema, na Lagoa, na Gávea, no Jardim Botânico e em Copacabana (por ordem decrescente). Bolha especulativa a chegar?


Registo número seis (ou “meia” como falam os nossos irmãos), o de pendor claramente mais negativo resultando do contraste entre a notável qualidade de alguns magníficos espaços públicos (do Jardim Botânico do Rio ao Parque de Ibirapuera em São Paulo, para só mencionar os maiores e mais chamativos) e uma dimensão ambiental ainda muito incipiente (nos esgotos a céu aberto, no deficiente tratamento dos lixos, nas águas insalubres, na poluição atmosférica, no ruído e por aí adiante). E nenhuma sociedade humana poderá verdadeiramente reclamar-se da modernidade e do desenvolvimento enquanto não tiver sido capaz de atacar frontalmente estas chagas imensas...

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