A formação de base em economia do crescimento
trabalha tradicionalmente com o pressuposto de que no longo prazo a percentagem
de salários (da remuneração do trabalho) no rendimento é constante. Essa
percentagem é supostamente variável a curto prazo, mas essas variações processar-se-iam
em torno de um valor de referência tendencialmente constante. Tal pressuposto
corresponderia de acordo com alguns modelos de referência na teoria do
crescimento económico a uma evidência empírica dos movimentos a longo prazo das
economias que apontava para o valor tendencialmente constante observado na
relação entre salários e rendimento.
A percentagem de salários no rendimento (W/Y) em
que W representa a massa de remunerações do trabalho e Y o rendimento das
economias pode ser decomposta num quociente: a taxa de salário média dividida
pela produtividade média do trabalho, ou seja: (W/Y) = w * (L/Y) = w / (Y/L).
Ora, nas economias mais avançadas, com foco
especial para a economia americana, a percentagem (W/Y) tem manifestado nos tempos
mais recentes uma tendência marcadamente descendente, como o mostra o gráfico
que abre este post. Regressando à decomposição atrás realizada, se o rácio
(W/Y) é descendente isso acontece porque o salário médio tem descido percentualmente
mais do que tem subido a produtividade do trabalho. Como é conhecido, apesar da
produtividade do trabalho revelar um crescimento anémico, a verdade é que não
tem cessado de aumentar. Assim, temos de estar perante uma desvalorização clara
da remuneração do trabalho para ser possível a descida tendencial da
percentagem de salários no rendimento.
Ou seja, o crescimento económico anémico e
moderado tem sido concretizado com um novo facto estilizado, a descida e não a
constância da percentagem dos salários no rendimento.
Aliás, é com base nos sinais de que o crescimento
mais recente da economia americana não tem sido acompanhado por uma subida do
salário correspondente pelo menos à produtividade que alguns economistas sustentam que a progressão da economia americana para uma taxa de desemprego
mais próxima do desemprego natural e incompressível não está ainda devidamente
consolidada.
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