sábado, 17 de janeiro de 2015

DA FORÇA DO PCP


Alexandre Soares dos Santos (ASS) é dos poucos empresários dignos desse nome que ainda nos restam. Além disso, e como todos os homens livres, é uma pessoa altamente polémica. Sobretudo porque, gostando legitimamente de se pronunciar sobre as ocorrências que vão marcando o seu entorno, enfrenta cada questão que se lhe coloca como se fora uma decisão que tivesse de tomar no quadro da sua empresa (no caso, da sua qualidade indeclinável de cidadão português no uso dos seus direitos individuais) e, munido dos seus quadros de referência em termos de valores, experiência e conhecimento, não faz cerimónia e atira com o que se lhe oferece. Às vezes quase parece também não recusar a exibição da sua visível costela política, ora feita de denúncias e arrasamentos em múltiplas direções ora integrando aquele prazer pela provocação que dá verdadeiro condimento mediático aos assuntos.

Mais uma vez, numa entrevista ao “Jornal i” deste fim de semana, ASS recorre ao seu modelo. Com referências ora lógicas e pertinentes, ora hiperbólicas e desfocadas, ora gratuitas e imprecisas. Sem que daí venha qualquer mal ao mundo, diga-se de passagem. Mas o que eu quereria aqui sublinhar hoje tem a ver com o título escolhido pelos editores para a primeira página daquela publicação (ver acima ou, nesta citação mais completa: “Não temos democracia cristã, não temos social-democracia, não temos socialismo. A única coisa séria que existe em Portugal é o Partido Comunista ortodoxo português. Mas pelo menos sei quem são. E nalgumas câmaras deste país são até os melhores.”). Nestes tempos de incerteza radical em que já quase não vai ficando pedra sobre pedra, ASS joga nos mínimos e agarra-nos ao que por cá ainda vai restando (seriedade e competência com sede na Avenida da Liberdade) – é compreensível, talvez até útil, talvez até justo (“homem SONAE” à parte, não será o PCP a única organização que realmente funciona em Portugal? Que tem uma estratégia, uma liderança, uma cadeia de comando, uma coerência de renovação, um sentido coletivo?), mas onde a porca torce o rabo é na impossibilidade de se descartar a restrição associada à ortodoxia – porque não é possível encontrar rumo e saída para um país na mera preservação dos adquiridos...

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