Já não é a primeira vez que chamo a atenção neste
espaço para a relevância do debate que se vai fazendo nos EUA em torno do comportamento
do mercado de trabalho, mesmo tendo em conta que o emprego parece finalmente
começar a assumir um ritmo sustentado de crescimento.
O debate prende-se sobretudo com a evidência de
que a descida da taxa de desemprego e o agora crescimento mais sustentado do
emprego não têm sido acompanhados de uma significativa aproximação do produto
real da economia americana face ao seu produto máximo potencial. Para além
disso, o comportamento estrutural da taxa de participação nos últimos 25 anos
tem sido fonte de inúmeras e diversificadas discussões. A taxa de participação
no mercado de trabalho representa a percentagem de população em idade de
trabalhar que o está a fazer ou a procurar ativamente um emprego.
A recuperação da economia americana após a crise
de 2007-2008 foi concretizada com um fraco crescimento do emprego e um dos
focos de explicação dessa fraca performance de criação de emprego está na
descida estrutural e continuada da taxa de participação (ver gráfico que abre o
post).
Nos últimos tempos, têm-se sucedido as propostas
explicativas para esse comportamento descendente da taxa de participação. Podem
dizer-me que a economia americana não deveria merecer a nossa atenção dada a
sua relativa especificidade de confronto com o universo económico europeu. Nos últimos
tempos, porém, a economia americana tem sido pioneira na antecipação de questões
que têm vindo a transformar-se em transversais para as economias de mercado
ocidentais. Nessa perspetiva, nem que seja pelo confronto de evidências, vale a
pena seguir esta matéria.
Recentemente, em testemunho perante o US Committee on Finance e utilizando dados preliminares de investigação em curso, o
Professor Robert Hall (Stanford University) trouxe para o debate elementos empíricos
sobre os quais a indiferença não pode ser alimentada.
Hall situa o comportamento relativamente anémico
do emprego no pós 2007-2008 como o resultado do comportamento descendente da
taxa de participação.
A revelação mais surpreendente do trabalho de Hall é a
conclusão de que é a descida da taxa de participação de teen-agers e de jovens
adultos (20-34 anos) que mais explica a descida da taxa de participação e que
isso acontece sobretudo nos escalões de rendimento mais elevados. Estes resultados,
entre outros efeitos, rejeitam plenamente a alusão dos republicanos de que são
as políticas de segurança social focadas nos mais desfavorecidos que explicam a
descida da taxa de participação. Os dados revelam ainda que estarão em
transformação os usos do tempo em termos de partilha entre trabalho, lazer e
educação, não se registando evidências seguras de que seja a educação a
justificar as horas trabalhadas a menos, mas antes a da ocupação em tempos de
lazer.
Também aqui a economia americana projetará por
antecipação as tendências do futuro?
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