domingo, 4 de janeiro de 2015

TABACARIA GOMES



Mesmo em tempos de economia e informação digitais, em que os nossos gadgets de estimação nos mantêm conectados com o mundo nos períodos em que abandonamos os esconderijos em que nos sentimos bem, as tabacarias, papelarias e os simples quiosques continuam a proporcionar o contacto visual e sensorial com os jornais e revistas. Sou claramente um consumidor de transição. O Ipad e o Iphone já fazem parte do meu quotidiano de acesso regular e circunstancial à informação, já leio semanalmente alguns jornais e revistas nesses dispositivos, mas o ritual do contacto táctil com os mesmos mantém-se e permanentemente renovado.
O fim-de-semana agora menos regular em Caminha projeta-me ainda mais claramente nessa transição. O Ipad é uma companhia já insubstituível, mas Caminha tem uma dessas tabacarias que continuam a seduzir o mais Ipad-dependente.
A tabacaria Gomes é um símbolo cosmopolita da vila e da sua praça central. Aí se pode encontrar um painel bem interessante de jornais e revistas internacionais, dos mais variados temas e editoras, não propriamente com a sofisticação de uma Livraria Barata em Lisboa, mas perfeitamente à altura de um leitor exigente e disposto a libertar a bolsa do peso de alguns euros a troco de uma incursão documentada por qualquer tema chamativo de um cidadão do mundo. A Gomes fazia parte do próprio símbolo convivial da praça, local de todos os encontros e de todas as referências. A sua relação com as esplanadas da mesma praça era natural.
Ora, a tabacaria Gomes abriu-se a outros horizontes, modernizou-se, alindou-se, aderiu a um conceito mais abrangente, não perdendo o cosmopolitismo da ambiência dos jornais e revistas, mas por questões de espaço para materializar o conceito mudou para a Rua de S. João, ali ao lado, a menos de 100 metros, ajudando a renovar um espaço que aguardava a sua reutilização funcional (ver imagem acima). A relação com as esplanadas da praça está menos espontânea, temos de a reconstruir nas rotinas dos nossos passos de consumidores. Mas é agora possível combinar a compra de uma revista de ponta ou de um jornal estrangeiro com a compra de um Alvarinho Soalheiro (o 2014 está uma delícia, cada vez mais frutado) sempre apetecível, um fumeiro de esmerada qualidade ou um brinquedo para os netos e até uma discutível máquina Nespresso acolhe o consumidor. O cosmopolitismo dos jornais e revistas mantém-se mas partilha a ambiência com estes novos símbolos do consumo urbano. Toda a mudança de conceitos de consumo é discutível. Cá para mim, dispensava o café e o vinho, pois na rotina dos passos deste consumidor está a esplanada da praça para o café e a garrafeira Baco (seja na sua loja mais tradicional ou na mais sofisticada mesmo ali ao lado) para o vinho.

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