Já algum tempo que não seguimos as crónicas de
domingo de Wolfgang Mϋnchau no Financial Times, um dos mais consistentes críticos
da situação insustentável, do tipo “stuck
in the middle”, em que o edifício europeu está mergulhado. Mϋnchau não
esconde que a sua proposta de saída para esta posição insustentável vai no
sentido de aprofundar, centralizando politicamente o processo, a integração política
da União. Fá-lo com a convicção de que a orientação hoje dominante é exatamente
a contrária.
Na última crónica, Mϋnchau desenvolve uma nova
argumentação que consiste em denunciar o que designa de malefícios da separação
total entre a condução económica da União e a sua política externa. E o
argumento vai no sentido de colocar em evidência as consequências no
enfraquecimento da posição política gerada pela debilidade económica a longo
prazo. Vai mesmo ao ponto de associar a arrogância de Putin na Ucrânia à
incapacidade manifesta da UE em avançar no processo de união fiscal e política.
E na mesma linha de argumentação associa a emergência nacionalista, xenófoba e
eurocética radical que pode baralhar as contas da democracia europeia a essa insuficiência
económica de longo prazo que pesa sobre o futuro dos europeus.
A argumentação de Mϋnchau não pode deixar de ser
ponderada no contexto dos efeitos perversos de sucessivos adiamentos na
clarificação do processo de integração. Não sou um fervoroso adepto da integração
política total e identifico-me mais com um processo alternativo de evolução que
convivesse melhor com as realidades nacionais e com o escrutínio democrático
sistemático dos avanços propostos. Mas reconheço que há aqui um efeito de
dependência do percurso. Os adiamentos sucessivos e sobretudo a crescente afirmação
da visão de Berlim, quanto mais se generalizarem, menos provável se torna a via
das aproximações sucessivas, com escrutínio democrático dos parlamentos
nacionais e das respetivas opiniões públicas. Tenho de reconhecer que o risco é
a dicotomia integração política ou implosão.
Face a este contexto, Draghi corre o risco de
pouco poder fazer para contrariar o que Mϋnchau designa de círculo vicioso “nacionalismo
económico de vistas curtas, debilidade económica a longo prazo, perda inexorável
de influência política”.
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