segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A ECONOMIA E A POLÍTICA DA UE SEGUNDO MÜNCHAU



Já algum tempo que não seguimos as crónicas de domingo de Wolfgang Mϋnchau no Financial Times, um dos mais consistentes críticos da situação insustentável, do tipo “stuck in the middle”, em que o edifício europeu está mergulhado. Mϋnchau não esconde que a sua proposta de saída para esta posição insustentável vai no sentido de aprofundar, centralizando politicamente o processo, a integração política da União. Fá-lo com a convicção de que a orientação hoje dominante é exatamente a contrária.
Na última crónica, Mϋnchau desenvolve uma nova argumentação que consiste em denunciar o que designa de malefícios da separação total entre a condução económica da União e a sua política externa. E o argumento vai no sentido de colocar em evidência as consequências no enfraquecimento da posição política gerada pela debilidade económica a longo prazo. Vai mesmo ao ponto de associar a arrogância de Putin na Ucrânia à incapacidade manifesta da UE em avançar no processo de união fiscal e política. E na mesma linha de argumentação associa a emergência nacionalista, xenófoba e eurocética radical que pode baralhar as contas da democracia europeia a essa insuficiência económica de longo prazo que pesa sobre o futuro dos europeus.
A argumentação de Mϋnchau não pode deixar de ser ponderada no contexto dos efeitos perversos de sucessivos adiamentos na clarificação do processo de integração. Não sou um fervoroso adepto da integração política total e identifico-me mais com um processo alternativo de evolução que convivesse melhor com as realidades nacionais e com o escrutínio democrático sistemático dos avanços propostos. Mas reconheço que há aqui um efeito de dependência do percurso. Os adiamentos sucessivos e sobretudo a crescente afirmação da visão de Berlim, quanto mais se generalizarem, menos provável se torna a via das aproximações sucessivas, com escrutínio democrático dos parlamentos nacionais e das respetivas opiniões públicas. Tenho de reconhecer que o risco é a dicotomia integração política ou implosão.
Face a este contexto, Draghi corre o risco de pouco poder fazer para contrariar o que Mϋnchau designa de círculo vicioso “nacionalismo económico de vistas curtas, debilidade económica a longo prazo, perda inexorável de influência política”.

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