terça-feira, 16 de setembro de 2014

AINDA À BOLEIA DE MONNET?



Via Tim Taylor no sempre estimulante Conversable Economist chego à leitura de um curioso artigo apresentado na conferência de outono do Brookings Papers on Economic Activity, assinado por Luigi Guiso, Paola Sapienza e Luigi Zingales, só o primeiro com atividade na Europa (European University Institute). O artigo chama-se, sugestivamente, Monnet’s Error?  e vem mesmo a calhar e na linha de desenvolvimento do meu post anterior.
A abordagem é aliciante sobretudo porque parte de uma célebre frase assinada por Jean Monnet nas suas Mémoires de 1976 (Éditions Fayard) e vale a pena mantê-la em francês para não perder espessura:
L’Europe se fera dans les crises et elle sera la somme des solutions apportés à ces crises.”
Os autores interpretam esta abordagem da natureza constitutiva das crises como um exemplo da perspetiva funcionalista que caracteriza o processo de construção europeia preconizado por um dos seus mais representativos artífices. A tese é a seguinte: a paulatina passagem de funções nacionais para o nível supranacional criará a pressão pertinente para uma maior integração através do que poderíamos entender como sendo efeitos de “feed-back” positivos ou virtuosos (os resultados positivos de uma maior integração conduziriam os cidadãos a exigir mais integração) e negativos (a integração inacabada ou parcial conduzirá ela também a uma maior integração).
A exequibilidade desta abordagem construtivista da abordagem às crises implica um equilíbrio entre o respaldo democrático das sociedades que puxarão por uma maior integração e o esclarecimento das elites que lideram tais avanços. Esta abordagem pressupõe a inexistência de efeitos dinâmicos perversos.
O artigo de Guiso, Sapienza e Zingales é uma tentativa muito sugestiva e trabalhosa de testar a bondade desta abordagem do ponto de vista da análise quantitativa dos sentimentos europeus relativos à integração europeia no período de 1973 a 2013, com os materiais dos Euro Barómetros como principal matéria de evidência.
Como seria de esperar, a conceção de Monnet tem um elevado potencial de aplicação às diferentes etapas da construção europeia, com relevo para o edifício inacabado e imperfeito do Euro, o que não significa que esteja necessariamente certa. Os resultados obtidos pelos autores identificam em 1992 uma degradação sensível do respaldo democrático do projeto europeu, sobretudo atendendo aos benefícios do mercado único, da moeda única e da integração política, que é praticamente comum a todos os países. Pelo contrário, em torno de 2004 são aspetos específicos relativos a países concretos que explicam a degradação do sentimento europeu. E na crise do Euro é sobretudo o desemprego que mina esse sentimento.
As teses de Monnet estão em perigo. Primeiro, porque afinal podem emergir efeitos perversos dinâmicos. Segundo, de escrutínio democrático estamos conversados. Terceiro, de elites esclarecidas também estamos conversados, onde elas param? Quarto, onde estão os resultados que poderiam assegurar os feed-backs positivos?

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