O chamado bloco central está ao rubro, tantas são
as peripécias e manigâncias que se desprendem como as cerejas.
A amnésia seletiva do primeiro-Ministro quanto
aos seus rendimentos no passado constitui um documento crucial para
compreendermos a ascensão política de um jotinha (tão novinho que ele era nas
bancadas da Assembleia), acolitado por interesses bem determinados na captura
das benesses. A matéria das coisas é tão importante que o homem não se lembra
se estava ou não em exclusividade e de registos estamos aviados. Exemplaríssimo
do modo com esta gente encara a relação entre o público e o privado, como se
fosse a coisa mais banal do mundo.
Do lado do PS, com um António José Seguro
claramente acossado pela dinâmica da campanha e a vender barato a sua, para mim
sempre pouco convincente e muito colada, pose de homem de Estado, vão se
desprendendo para a opinião pública pedaços tóxicos do PS quistão, bem
profundo. Seguro avança com a bomba da promiscuidade entre negócios e política
para dentro do próprio partido, numa espécie de kamikase para dentro e o nome
escolhido foi Nuno Godinho de Matos, mas que bomba. A desbussolada Ana Gomes
teve uma revelação e coloca cá fora a ideia de que o apoio de António Vitorino
a António Costa é o melhor apoio que Seguro poderia ter tido. Imagina-se a paixão
que essa força errática da natureza dedica ao “advogado de negócios”, designação
com que os inimigos de Vitorino o costumam mimar. Costa e sua equipa vão na
onda e desenterram a figurinha da comunicação João Tocha, sugerindo que ele é o
veículo de comunicação entre, imagine-se, Seguro e Luís Filipe Meneses. E um
raciocínio do tipo estranho vem-nos à cabeça, despertando voyeurismo político a
qualquer um: Seguro estaria para Meneses como Costa está para Rio; ora
conhecendo os amores de Meneses por Rio e vice–versa, fecha-se o círculo e as
coisas ainda acabam mal. E quem vai à Tocha sai tochado e o dito lá se esforçou
por esclarecer que Costa, César e Gomes também foram seus clientes. Pois e
ainda ninguém falou num tal Ferreira que tem sido pelo menos a norte a eminência
parda da comunicação no PS.
Com toda esta preparação, a minha cabeça pedia
algum repouso visual e auditivo e troquei o debate, com decibéis demasiados
para um tipo cansado pelo trabalho, pelo Midsomer
Murders na Fox Life. E pelo que fui lendo não devo arrepender-me.
Entretanto, esta paz podre estende-se ao
jornalismo e, valerá a pena aprofundar a intervenção de António Lobo Xavier no
Funchal que denuncia conluios entre jornalismo, justiça e política.
Pois nesta paz podre é estranho chegarmos à
conclusão que João Miguel Tavares tem sido praticamente o único a denunciar a
tripa forra de vigarice e de pirâmides de Ponzi que o caso BES representou, sem
deixar de manter algum juízo crítico sobre a atuação do Governo e do Banco de
Portugal. A sua crónica sobre o agora não silêncio do co-avô Miguel Sousa
Tavares é uma delícia, corajosa. Valha-nos a contra-corrente.
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