Um destes dias, ao almoço, tive uma conversa bastante estimulante com um amigo próximo. Por entre o inesgotável acervo de temas que fomos desbravando ou esmiuçando tarde fora perpassou o afloramento pontual de algumas críticas àquilo que vai resultando ser, no concreto, este nosso “Interesse Privado, Acção Pública”, que já vai em três anos de presença assídua.
Uma dessas razões de censura construtiva e amiga tem a ver com “o método”, i.e., com a eleição das matérias através de cujo tratamento estaríamos na prática a reconhecer efetiva relevância, a velha questão da “espuma dos dias” e dos vícios/riscos/erros que ela necessariamente comporta.
A questão é obviamente pertinente, embora no essencial não seja passível de uma abordagem em termos de preto ou branco. Sobretudo porque existe o cinzento, aliás de tantos mais tons quanto maior o número de variáveis explicativas a considerar na definição da função subjetiva em presença.
E, sem deixar de em consciência salvaguardar as devidas distâncias intelectuais e disciplinares, dei por mim a procurar recuperar uma entrevista de Edgar Morin (EM) – esse investigador emérito do CNRS que, aos 93 anos, preside à Agência Europeia para a Cultura (Unesco) e à Associação para o Pensamento Complexo –, uma entrevista que tinha lido há dias a propósito de um livro que vai lançar com a recolha de cinquenta anos de colunismo no “Le Monde”. Onde, perguntado sobre se “escrever a quente” não conduz ao risco de “teorização apressada”, EM contrapunha a vantagem de tal permitir “inventar uma sociologia do presente” e adiantava: “Um artigo numa revista leva meses a aparecer, anos antes de ser publicado sob a forma de livro, muito tempo antes de se confrontar com o presente. Fiz inúmeros trabalhos sobre as metamorfoses da modernidade, sobre o fenómeno das estrelas ou o ressurgimento de um certo antissemitismo medieval no coração da sociedade francesa. Mas um artigo do Monde faz a análise sair da sua ganga universitária. Ela intromete-se nos acontecimentos, no espírito do tempo. Dito isto, também gosto de assumir riscos no diagnóstico a quente.” Pedindo humildemente licença a EM, e porque me revejo profundamente na sua argumentação, assino por baixo sem mais.
E recomendo o livro, certamente a não perder...
Uma dessas razões de censura construtiva e amiga tem a ver com “o método”, i.e., com a eleição das matérias através de cujo tratamento estaríamos na prática a reconhecer efetiva relevância, a velha questão da “espuma dos dias” e dos vícios/riscos/erros que ela necessariamente comporta.
A questão é obviamente pertinente, embora no essencial não seja passível de uma abordagem em termos de preto ou branco. Sobretudo porque existe o cinzento, aliás de tantos mais tons quanto maior o número de variáveis explicativas a considerar na definição da função subjetiva em presença.
E, sem deixar de em consciência salvaguardar as devidas distâncias intelectuais e disciplinares, dei por mim a procurar recuperar uma entrevista de Edgar Morin (EM) – esse investigador emérito do CNRS que, aos 93 anos, preside à Agência Europeia para a Cultura (Unesco) e à Associação para o Pensamento Complexo –, uma entrevista que tinha lido há dias a propósito de um livro que vai lançar com a recolha de cinquenta anos de colunismo no “Le Monde”. Onde, perguntado sobre se “escrever a quente” não conduz ao risco de “teorização apressada”, EM contrapunha a vantagem de tal permitir “inventar uma sociologia do presente” e adiantava: “Um artigo numa revista leva meses a aparecer, anos antes de ser publicado sob a forma de livro, muito tempo antes de se confrontar com o presente. Fiz inúmeros trabalhos sobre as metamorfoses da modernidade, sobre o fenómeno das estrelas ou o ressurgimento de um certo antissemitismo medieval no coração da sociedade francesa. Mas um artigo do Monde faz a análise sair da sua ganga universitária. Ela intromete-se nos acontecimentos, no espírito do tempo. Dito isto, também gosto de assumir riscos no diagnóstico a quente.” Pedindo humildemente licença a EM, e porque me revejo profundamente na sua argumentação, assino por baixo sem mais.
E recomendo o livro, certamente a não perder...
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